O Sambódromo do Rio de Janeiro, palco dos famosos desfiles de carnaval daquele estado brasileiro, irá acolher os cidadãos sem-abrigo que não têm forma de se proteger da pandemia do novo coronavírus.
A partir de hoje, a monumental estrutura de cimento do Sambódromo da Marquês de Sapucaí fornecerá abrigo e assistência a cerca de 400 sem-abrigo que, por morarem nas ruas, sem acesso a condições de higiene e sem uma boa nutrição, são uma população considerada de alto risco de infeção pela covid-19.
Oficialmente denominado como "Passarela Professor Darcy Ribeiro", o sambódromo do Rio de Janeiro foi construído pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer em 1984, num tempo recorde de 120 dias, e desde então é palco dos desfiles de carnaval mais famosos do mundo, embora também tenha sido usado para espetáculos musicais de bandas, como 'The Rolling Stones' ou 'Black Sabbath'.
A estrutura tem capacidade para receber mais de 72.500 espetadores e é composto por uma passarela que se estende por 700 metros e termina com uma área conhecida como Praça da Apoteose.
No entanto, sob as bancadas do sambódromo serão agora montadas camas, de forma a fornecer um teto decente para os sem-abrigo.
"Aqui eles [cidadãos que vivem nas ruas] poderão tomar banho e fazer a sua higiene pessoal. Receberão um kit de higiene pessoal com escova e pasta de dentes, sabonete e terão uma equipa técnica multidisciplinar que os acompanhará", explicou à agência Efe a secretária de Assistência Social e Direitos Humanos da prefeitura, Jucélia Oliveira Freitas.
As instalações foram esterilizadas durante o fim de semana para que fossem montadas as habitações, e, na entrada do complexo, foram adaptadas pias para a lavagem de mãos, de forma a iniciar o processo de higiene dos moradores de rua.
Cada divisão será equipada com seis a sete camas, que terão a separação adequada entre elas para que se respeitem as devidas medidas preventivas, sendo que o espaço será mantido arejado com pelo menos dois ventiladores.
A primeira unidade - que abrigará 128 homens adultos - já se encontra pronta e sua a adaptação total será finalizada esta semana, data em que mais duas unidades serão concluídas.
A segunda unidade terá 144 vagas disponíveis para mulheres, mães com crianças e mulheres grávidas, e uma terceira será destinada a cerca de 120 idosos.
No total, o sambódromo protegerá cerca de 400 pessoas que vivem nas ruas do Rio de Janeiro, que é o segundo estado mais afetado pelo novo coronavírus, tendo registado, até ao último domingo, 17 mortos e 600 infetados.
A Prefeitura desconhece o número exato de habitantes que vivem nas ruas da ‘cidade maravilhosa’, embora em 2018 a entidade tenha estimado cerca de 5.000 cidadãos sem-abrigo. Outros estudos anteriores calcularam, em 2016, a presença de cerca de 15.000 moradores de rua no Rio de Janeiro.
"Na nossa rede, já recebemos 3.400 pessoas da rua. Com todos estes novos abrigos que estão a ser construídos, teremos mais ou menos a ideia de quantos sem-abrigo existem no Rio de Janeiro. No momento não temos o número exato", afirmou a secretária.
Apesar de ser uma população que corre um risco elevado de infeção, a prefeitura não obrigará ninguém a proteger-se nos abrigos, já que a experiência mostra que estes cidadãos se deslocarão voluntariamente, porque, além de um teto e casas de banho, eles terão acesso a "roupas novas e limpas, toalhas e três refeições diárias, para que possam estar protegidos durante esta pandemia".
O mesmo não acontecerá com os sem-abrigo infetados pelo novo coronavírus, que serão encaminhados para centros de saúde ou espaços adequados para o tratamento da doença, onde serão forçados a permanecer isolados até à sua recuperação.
O número de mortos no Brasil devido ao novo coronavírus aumentou no domingo para 136, sendo que o país ultrapassou os quatro mil casos confirmados da doença, registando 4.256 infetados, informou o Ministério da Saúde do país.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 727 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 35 mil.