Líderes partidários do Senado brasileiro assinaram na segunda-feira um manifesto em defesa do isolamento social como forma de prevenir a disseminação do novo coronavírus, posição contrária à defendida pelo Presidente do país, Jair Bolsonaro.
“Apenas o isolamento social, mantidas as atividades essenciais, poderá promover o 'achatamento da curva' de contágio [do novo coronavírus], possibilitando que a estrutura de saúde possa atender ao maior número possível de enfermos, salvando assim milhões de vida, conforme apontam os estudos sobre o tema”, indica o documento, que foi lido na câmara alta parlamentar pelo vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia.
O manifesto sublinha que a experiência dos países que estão com um nível de contágio mais avançado deixa claro que, face à inexistência de uma vacina contra o vírus, a medida mais eficaz para minimização dos efeitos da pandemia é o isolamento social.
"Ao Estado cabe apoiar as pessoas vulneráveis, os empreendedores e segmentos sociais que serão atingidos economicamente pelos efeitos do isolamento. (...) Diante do exposto, o Senado manifesta-se de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e apoia o isolamento social no Brasil, ao mesmo tempo em que pede ao povo que cumpra as medidas ficando em casa", conclui o texto.
Na rede social Twitter, o presidente do Senado brasileiro, Davi Alcolumbre, que testou positivo para a doença covid-19, posicionou-se a favor do isolamento social como medida preventiva.
"Nesta segunda-feira, o Senado Federal divulgou um manifesto em apoio ao isolamento social e a permanência das pessoas em casa durante a epidemia da covid-19. O documento é assinado pelos líderes. Sei, por experiência própria, como é importante seguir as orientações da OMS. #ficaemcasa", escreveu Alcolumbre.
A posição dos senadores surge quando diariamente Jair Bolsonaro tem apelado ao fim do "confinamento em massa" e à reabertura de escolas e comércio, como forma de travar os impactos económicos da pandemia no país.
No domingo, Jair Bolsonaro contrariou mais uma vez as recomendações sanitárias de quarentena no país e passeou por localidades da área metropolitana de Brasília, visita que foi partilhada pelo chefe de Estado na rede social Twitter.
O chefe de Estado brasileiro tem sido fortemente criticado, quer pela classe política, quer pela científica, devido às suas declarações e ações.
Três ex-candidatos à presidência, um governador e líderes de seis partidos de centro-esquerda do Brasil pediram na segunda-feira a renúncia de Bolsonaro, que consideram "incapaz" de enfrentar a crise provocada pelo novo coronavírus.
O pedido consta de uma carta manifesto divulgada nos media locais na qual os líderes da oposição afirmam que o chefe de Estado "não tem condições” de continuar a governar o Brasil e de “enfrentar essa crise, que compromete a saúde e a economia".
"[Bolsonaro] comete crimes, frauda informações, mente e incentiva o caos, aproveitando-se do desespero da população mais vulnerável. Precisamos de união e entendimento para enfrentar a pandemia, não de um Presidente que contraria as autoridades de saúde pública e submete a vida de todos aos seus interesses políticos autoritários", lê-se no documento.
O Brasil tem 159 mortos e 4.579 infetados pelo novo coronavírus, anunciou na segunda-feira o Ministério da Saúde do país, acrescentando que são já 15 as unidades federativas brasileiras a registarem óbitos devido à pandemia da covid-19.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 750 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 36 mil.