A Confederação das Associações Económicas - CTA alertou para o impacto da subida da taxa de juro de referência de Moçambique, de 18% para 18,4%, em abril, num momento em que se antecipa uma crise devido à covid-19.
"Na prática, significa isto subida da taxa de juro do mercado, ou seja, as obrigações das empresas com a banca neste período difícil serão, ainda, maiores que o período anterior que a situação era, relativamente, melhor", lê-se numa nota da CTA divulgada na sua página de internet.
A maior entidade patronal moçambicana alerta que o próprio setor financeiro será profundamente afetado pelos efeitos da covid-19, prevendo um incumprimento do serviço da dívida e a redução da receita dos bancos.
Segundo a CTA, o turismo, aviação Civil e agricultura, que estão entre os mais afetados, contraíram conjuntamente em janeiro uma dívida junto à banca de cerca 43 mil milhões de meticais (595 milhões de euros), o que corresponde a 19% do volume de crédito total do setor.
"Considerando que este crédito possui uma maturidade média de cinco anos, e que a taxa de juros média aplicável equivale a `Prime Rate´ fixada em 18%, num cenário otimista, que sugere um risco de incumprimento de três prestações, o volume de perdas do setor bancário poderá ascender a 3,3 mil milhões de meticais [41 milhões de euros], sendo que deste montante, a perda referente a receita dos bancos [juros], poderá ascender a 1,9 mil milhões de meticais [26 milhões de euros]", acrescenta.
Por outro lado, refere a entidade, num cenário pessimista, em que o incumprimento seja de seis meses, o setor bancário pode acumular perdas de 6,6 mil milhões de meticais (91 milhões de euros).
"Este cenário poderá ter impacto no crescimento do setor financeiro, fazendo com que este apresente uma taxa de crescimento compreendida entre -2% e 3,6%, relativamente abaixo do seu potencial crescimento estimado em 9% para 2020", conclui a CTA.
A subida da taxa de juro de referência de Moçambique de 18% para 18,4% em abril foi anunciada na terça-feira pela associação de bancos e pelo banco central, quando os patrões pediam uma descida para enfrentar o abrandamento provocado pela covid-19.
É a primeira vez que se regista uma subida na taxa desde que foi criada em junho de 2017 com um valor de 27,75%.
A taxa estava estável há cinco meses e a última descida tinha acontecido em outubro, quando recuou de 18,3% para 18%.
O comunicado do banco central não esclareceu as razões da subida, numa altura de forte abrandamento económico devido às restrições globais impostas pela prevenção da pandemia provocada pelo novo coronavírus.
Moçambique tem o registo oficial de 10 casos da covid-19 e o Governo decretou estado de emergência, uma medida que inclui limitações em mercados e nos transportes, além de encerramento de todos os estabelecimentos de diversão e lazer.
A pandemia de Covid-19 afeta já 50 dos 55 países e territórios africanos com mais de 7.000 infeções e 280 mortes, segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC). São Tomé e Príncipe permanece como o único país lusófono sem registo de infeção.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 51 mil.
Dos casos de infeção, cerca de 190.000 são considerados curados.