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Quase uma semana de estado de emergência em Moçambique, povo reclama contra «caos»

António Cossa espera, há cinco horas, um autocarro na baixa de Maputo e, além do medo de perder o trabalho devido ao atraso, receia pela sua saúde, numa fila onde as pessoas desrespeitam o distanciamento recomendado para evitar a covid-19.

Quase uma semana de estado de emergência em Moçambique, povo reclama contra «caos»
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Na longa fila em que está António Cossa, o distanciamento entre pessoas pedido pelas autoridades face à propagação da covid-19 é uma ilusão, na medida em que ninguém quer perder os poucos veículos que ainda se fazem à estrada para transportar passageiros, apesar de "somar apenas prejuízos" devido às limitações impostas no âmbito do estado de emergência, em vigor em Moçambique.

"Isto está um caos, o sistema não foi bem montado. Não há transportes", lamenta à Lusa António Cossa, um artista plástico que percorre diariamente quase 60 quilómetros, entre Maracuane e Boane, para ir trabalhar.

O estado de emergência em Moçambique obrigou os operadores de furgões e autocarros a levarem apenas um terço da lotação, o que levou alguns privados a pararem com as atividades por alegados prejuízos, agravando o já conhecido problema de transportes na capital moçambicana.

"O risco aqui é ainda maior. Imagina só se, neste todo fluxo de pessoas aqui na praça, um estiver infetado: todo mundo estará contaminado", alerta António Cossa.

Apesar de assumir o risco, o artista, tal como vários moçambicanos, tem de ir à rua para ganhar o seu sustento.

"As pessoas continuam a ir aos seus trabalhos porque não há condições para realmente ficarmos em casa", refere.

Do outro lado da fila, Manuel Xavier, um carpinteiro de 43 anos, está há duas horas à espera de transporte para ir entregar um encomenda no Zimpeto, a 18 quilómetros da baixa da capital moçambicana, e, com os olhos no relógio, teme mais pelo sustento da sua família do que pela própria saúde.

"Não há como evitar estas aglomerações sem dar comida às pessoas. Nós estamos na rua porque é a nossa única forma de alimentar as nossas famílias. Sabemos que há essa doença, mas a fome também é uma doença", afirma.

Na estrada, a Polícia Municipal não dá tréguas e os veículos encontrados com um número acima do estabelecido e sem observar as regras de prevenção são sancionados.

Vitorino Inácio é condutor de um autocarro que tem uma lotação de 40 passageiros, mas, com as limitações, é obrigado a levar apenas 14 pessoas por viagem, o que constitui um "grande prejuízo".

"Está difícil. Somos obrigados a levar poucas pessoas estamos a somar prejuízos. As paragem andam cheias", afirmou o condutor.

Não muito longe da baixa de Maputo, o mercado Xiquelene continua cheio de vida, com aglomerações de comerciantes informais em cada esquina.

Apesar das tímidas medidas de prevenção, que passam pela lavagem das mãos e limpeza dos autocarros no terminal dos transportes, se o novo coronavírus estiver à solta, tem espaço para propagação.

Há quem ainda se tente precaver, tapando a boca com um lenço, enquanto outros, um pouco mais inusitados, optam por transformar garrafas plásticas em máscaras, mas é iminente o risco que corre na azáfama típica dos mercados informais da capital moçambicana.

Moçambique anunciou na sexta-feira a primeira recuperação de um dos 10 casos oficiais registados de infeção pelo novo coronavírus no país e não há registo de mortos pela covid-19.

O país vive em estado de emergência durante todo o mês de abril, com espaços de diversão e lazer encerrados, proibição de todo o tipo de eventos, de aglomerações superiores a 20 pessoas e limitações na lotação de transportes.

Durante o mesmo período, as escolas estão encerradas e a emissão de vistos para entrar no país está suspensa.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 70 mil.

Dos casos de infeção, mais de 240 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

A pandemia afeta já 52 dos 55 países e territórios africanos, com mais de 9.200 infeções e 414 mortes, segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana.

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