A UNITA, maior partido da oposição em Angola, pediu hoje mais apoio e solidariedade para com as comunidades mais vulneráveis durante o estado de emergência para que o país «não deixe a sua população morrer à fome».
“É preciso lembrar que o nosso país está cheio de comunidades que, mesmo antes do estado de emergência, padeciam de fome, careciam de produtos da cesta básica”, notou Navita Ngolo, segunda vice-presidente do grupo parlamentar da UNITA, durante uma ação de doação de bens em Cacuaco (Luanda).
A deputada salientou que, devido às restrições impostas, “muitas pessoas já não se podem deslocar até à praça”, comprometendo os seus meios de subsistência, e pediu mais apoio para os mais vulneráveis durante o estado de emergência, que foi declarado a 27 de março e chegou hoje ao seu 11.º dia.
“Os recursos são poucos, mas não podemos permitir que as pessoas além de morrer da covid-19 morram à fome. Angola não se pode permitir a isso, não pode deixar a sua população morrer a fome”, reforçou.
Na comunidade de casas de chapa, junto ao bairro Mayé-Mayé, que a delegação da UNITA visitou, falta quase tudo.
É um aglomerado pobre, no distrito urbano de Sequele (município do Cacuaco) a quase uma hora da cidade de Luanda, sem estrada asfaltada, sem escola, sem transportes, sem infraestruturas básicas.
A maior dificuldade está na água, queixa-se Esperança da Cruz André, 20 anos, sem deixar ainda assim esmorecer o sorriso.
A jovem, que carrega um bebé às costas, diz que são necessárias duas horas a caminhar para ir buscar água, que nem sempre há dinheiro para comprar.
Com a quarentena imposta pelo estado de emergência tudo piorou: “A vida está difícil aqui, às vezes não temos nada que comer”, contou. A dieta pouco varia: “Às vezes quizaca [folhas de mandioca], às vezes bombó [mandioca demolhada]”.
Isaías Bendi relatou as mesmas dificuldades, sobretudo a falta de água e de alimentação e mostrou-se preocupado com o novo coronavírus.
Mas mais do que na prevenção, é em Deus que confia: “Temos que agradecer ao Grandioso, que nos cuida”, até porque “a área em que nos encontramos é desfavorável para prevenções”.
Madalena Simão, que recebeu a comida em nome da comunidade, salientou que a ajuda será devidamente repartida, pois “todos estão a passar mal”.
“Aqui a nossa comida é só lavra [do campo]. Vai tirar quizaca, vai tirar rama, sem óleo, sem sal, estamos mesmo mal”, lamentou.
“Nós dependemos da praça. Nos outros dias íamos vender, mas agora ninguém pode sair, nós não podemos sair, vamos comer o quê?”, perguntou.
Para a deputada da UNITA, uma vez que muitos não têm outra fonte de rendimento “é necessário acionar o apito da solidariedade”, defendendo que todos, desde igrejas e empresários aos partidos políticos se devem mobilizar e unir aos esforços do executivo.
“Temos todos que nos unir para que possamos ir mitigando algumas necessidades”, afirmou Navita Ngolo, considerando” gritante” a falta de água, tendo em conta que esta é uma das medidas de prevenção mais básicas contra a covid-19.
Farinha, arroz, óleo e sabão, “que é importante para os cuidados de proteção”, são alguns dos produtos que hoje chegaram aquela comunidade isolada, aliviando a fome por alguns dias.
O país regista até ao momento 14 casos de infeção com o novo coronavírus, dos quais dois resultaram em morte e dois já recuperados.