A transferência do transplante hepático do hospital Curry Cabral para Santa Marta decorre da necessidade de garantir aos doentes “a máxima segurança” durante a pandemia covid-19, segundo o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC).
O Santa Marta será "um hospital livre de covid-19, de forma a nele concentrar os doentes, que, como os transplantados, exigem cuidados especiais”, afirma o CHULC num esclarecimento enviado à agência Lusa, recordando que este “é o único centro no país a realizar transplante pulmonar” e onde ocorre também transplante cardíaco.
“A transferência do transplante hepático nesta fase decorre da necessidade de garantir aos doentes a máxima segurança”, sublinha.
Neste sentido, adianta, o Santa Marta assume “um conjunto de regras excecionalmente rigorosas e uma sala adicional para a realização de transplantação” que será terminada até ao final desta semana, sendo que a mudança de equipamentos e a reorganização de equipas já está a decorrer com normalidade.
“A gestão de recursos humanos irá igualmente garantir a não circulação de profissionais por outras unidades ou polos, de forma a garantir a maior segurança possível para todos os doentes a realizar imunossupressão”, salienta.
O esclarecimento do CHULC surge no dia em que o Grupo de Transplantados do Hospital Curry Cabral lançou uma petição pública, apelando para a manutenção dos serviços destinados aos doentes transplantados e oncológicos por recearem estar perante risco de vida,
A Lusa também questionou o centro hospitalar sobre denúncias que recebeu de médicos do Centro Hepato-bilio.pancreático e de Transplantação do Curry Cabral que dizem estar sem operar doentes há duas semanas.
Também questionado sobre este assunto na conferência de imprensa diária da DGS, o secretário de Estado da Saúde, António Sales, afirmou que parte desta questão se prende “com a diminuição da prestação de cuidados, da atividade assistencial ao nível do Serviço Nacional de Saúde, noutras patologias em função” do foco na covid-19”.
Segundo o governante, está já a ser preparado “um plano de futuro”, para recuperar a atividade assistencial que agora é reduzida e que terá de ser acelerada na fase pós-covid.
Integrado em toda esta estratégia, a situação “está a ser analisada e ponderada como muita serenidade para percebermos exatamente se o hospital Curry Cabral poderá ter uma zona dedicada exclusivamente, ou não, à covid, tendo que, se assim for, transferir algumas valências e alguma da atividade assistencial para outros hospitais”, sublinhou António Sales.
O CHULC esclarece, na nota enviada à Lusa, que a conversão do Curry Cabral numa unidade dedicada ao combate à pandemia Covid‐19 é uma “opção segue o racional, já utilizado em vários países, de concentrar em unidades ultraespecializadas a abordagem mais complexa de doentes com Covid‐19”.
“A conversão foi cuidadosamente planeada e implica a transferência de várias especialidades médicas com internamento, para outros polos”, adianta, sublinhando que “estas transferências, que vigorarão pelo período necessário ao controlo da pandemia, ficarão concluídas até final desta semana.
O serviço de Medicina Física e Reabilitação passa para o Hospital de Santo António dos Capuchos, os serviços de Ortopedia e de Cirurgia Geral ficam no São José e serviço de transplantes hepato‐bilio‐pancreaticos no Santa Marta.
Médicos alertaram também a Lusa de que devido a esta situação todo o equipamento de ponta do Curry Cabral, com o Robot Da Vinci, equipamento único na Europa de radiologia de intervenção, não vai poder ser utilizado.
Relativamente à cirurgia robótica, o CHULC explica que “o equipamento único no SNS está temporariamente suspenso” na sequência de recomendações de várias sociedades nacionais e internacionais, que recomendam a não utilização de laparoscopia durante a pandemia.
“As intervenções urgentes, agendadas para este equipamento, continuarão a ser realizadas recorrendo às técnicas usadas até há uns meses, garantindo a maior segurança para doentes e profissionais”, sublinha.
O CHULC refere mantém toda a sua atividade assistencial de acordo com as orientações da DGS, para garantir a “defesa da saúde de todos os cidadãos que a ele recorrem”.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 311 mortes, mais 16 do que na véspera (+5,4%), e 11.730 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 452 em relação a domingo (+4%).
Dos infetados, 1.099 estão internados, 270 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 140 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado na quinta-feira na Assembleia da República.
Além disso, o Governo declarou no dia 17 de março o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.