A imunologista japonesa Akiko Iwasaki afirmou hoje que a atribuição de certificados de imunidade a pessoas com anticorpos contra o coronavírus da covid-19 "tem de ser considerada com cuidado", uma vez que estas pessoas podem não estar totalmente imunes.
Akiko Iwasaki, que participou hoje numa videoconferência promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian sobre as respostas sanitárias, económicas e políticas à covid-19, disse que a concessão de um "passaporte para a imunidade" desta doença respiratória, defendida pela Alemanha, "tem de ser considerada com cuidado", pois "ter anticorpos", por si só, contra o coronavírus SARS-CoV-2 "não significa" que "se vai estar protegido de uma reinfeção" ou que "não se vai contagiar" alguém.
Segundo a investigadora da Yale School of Medicine, nos Estados Unidos, as pessoas com anticorpos "podem potencialmente transmitir o vírus", pelo que "é muito cedo" pensar que estão protegidas e não vão transmitir a infeção.
Corroborando a cautela de Akiko Iwasaki, o diretor do Instituto Pasteur, Stewart Cole, defendeu que é preciso "mais tempo" para se saber quais os "anticorpos específicos" que se vão ligar ao coronavírus e conferir uma proteção do organismo contra a covid-19.
Nesse sentido, o microbiologista sublinhou que "é muito cedo" para dizer que tipo de vacina, que induz a produção de anticorpos, será mais eficiente para prevenir a doença.
Os anticorpos são glicoproteínas produzidas e expelidas pelas células plasmáticas - células que existem no soro sanguíneo - para responder a uma substância estranha ao organismo, como um vírus ou uma bactéria.
A Alemanha pretende atribuir certificados de imunidade às pessoas para evitar que as medidas restritivas de contenção da propagação da pandemia, como o isolamento social, estrangulem a economia do país e as pessoas possam regressar aos poucos à sua vida normal, nomeadamente trabalhar.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 70 mil.
Dos casos de infeção, mais de 240 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declará-lo como uma pandemia.
Portugal, em estado de emergência até 17 de abril, regista 311 mortes e 11.730 infeções, segundo o balanço divulgado hoje pela Direção-Geral da Saúde.
Dos infetados, 1.099 estão internados, 270 dos quais em unidades de cuidados intensivos, havendo 140 doentes que recuperaram desde que a doença foi confirmada no país, em 02 de março.