Sem acesso a máscaras cirúrgicas para se protegerem da covid-19, muitos angolanos viraram-se para a produção local, com coloridos tecidos africanos, que invadiram as ruas da capital angolana, dando novo fôlego ao negócio de muitos costureiros e alfaiates.
Um deles é Chitunda Sapalo, pequeno empreendedor no ramo da moda, que, desde que foi decretado o estado de emergência, em 27 de março passado, devido à pandemia do novo coronavírus, se dedica à confeção de máscaras artesanais em Luanda.
“Suspendemos os nossos trabalhos de confeção de roupas e começámos a dedicar-nos à fabricação de máscaras de panos, com meios próprios”, diz Chitunda Sapalo, em declarações à agência Lusa.
De forma altruísta, o jovem empreendedor angolano, dono de um espaço com apenas uma máquina de costura, começou por produzir 50 máscaras, com material que adquiriu com o seu dinheiro num dos armazéns de Luanda.
As máscaras foram distribuídas por si e pelo parceiro com quem trabalha, de forma gratuita, nas comunidades em que vivem.
“Neste momento, estamos a precisar de matéria-prima, mais concretamente panos e máquinas, para conseguirmos produzir diariamente 250 máscaras para o Estado angolano, que por sua vez vai encarregar-se da sua distribuição”, refere.
Questionado sobre como aprendeu a confecionar as máscaras, responde que comprou uma máscara cirúrgica numa farmácia, tirou o molde e começou a produzir.
Segundo Chitunda Sapalo, a máscara de pano africano “é eficaz, porque permite ao cidadão usá-la várias vezes, por um ou dois meses”.
“Quando vai à rua e regressa a casa deve lavá-la e depois passar a ferro para matar o vírus, evitando pegar na parte interior da máscara e apenas na extremidade”, explica.
Ainda sobre a eficácia das máscaras, o empresário angolano diz que fez um teste com o tecido africano, simplesmente colocando a máscara e soprando para um isqueiro em frente.
“Se o lume do isqueiro não se mexer ou apagar é porque a máscara é eficaz e se passar não é eficaz. O nosso pano africano é eficaz para a proteção da covid-19”, assegura.
Chitunda Sapalo diz que a população no seu bairro “quer mais máscaras”, mas devido à falta de material estão parados.
“Queremos estar aqui, dia e noite, a trabalhar na produção de máscaras, para ajudar o Estado angolano neste combate da covid-19”, refere, lembrando que se “o Estado está em colapso, em termos financeiros, o cidadão ainda mais, porque o número de desempregados é grande”.
Com material disponível, o jovem empreendedor garante que tem a capacidade de produzir diariamente 250 máscaras, perfazendo em sete dias quase 1.800 máscaras, “o que é satisfatório para algumas comunidades aqui na capital de Angola”.
Para a distribuição das máscaras, pretendem colaborar com as administrações dos municípios do Kilamba Kiaxi e de Talatona, caso consigam tecidos e mais máquinas de costura.
As responsáveis pela venda das máscaras são essencialmente as mulheres ‘zungueiras’ (vendedoras ambulantes), que adquirem o produto no mercado de Kikolo, nos arredores de Luanda, comercializando a um preço que varia entre os 100 e 200 kwanzas (entre 15 e 30 cêntimos).
Filomena Patrício começou a vender esse tipo de máscaras há duas semanas “porque a doença está em Angola, e para as pessoas se protegerem”.
A ‘zungueira’ vende diariamente 50 ou 100 máscaras, que compra ao preço de 50 kwanzas (08 cêntimos de euro) e 100 kwanzas (15 cêntimos de euro).
Já Fernanda Maria e Marlene Victor, ambas ‘zungueiras’, adquirem as máscaras também no Kikolo, onde antes do atual negócio vendiam pasta dentífrica, chinelos e roupa interior para mulher e homem.
Fernanda Maria diz que por dia chega a vender entre 20 e 25 máscaras, lucrando 3.000 kwanzas (4,9 euros), que servem para comprar comida.
Por sua vez, Marlene Victor conta que compra no Kikolo dois tipos de máscaras, um por 150 kwanzas (25 cêntimos euros) e outro que custa 100 kwanzas (15 cêntimos), cuja diferença é o feitio: uma com forma de focinho de cão e a outra direita.
Marlene Victor confessa que a procura das máscaras foi maior nos primeiros dias, “mas agora diminuiu” e Fernanda Maria refere que a maior preocupação dos clientes é saber se as máscaras já estão tratadas.
João da Silva, um dos clientes de Filomena Patrício, estava protegido com uma máscara cirúrgica, mas adquiriu as máscaras de pano africano para proteger a sua família.
“Comprei esta de maneira a proteger os meus filhos, porque esta cirúrgica está muito cara e difícil de aparecer”, diz João da Silva à Lusa, lembrando a necessidade de proteger a sua família, visto que sai todos os dias de casa para procurar alimentos.
Angola já registou dois óbitos de um total de 19 casos positivos da covid-19, estando a cumprir a primeira fase do estado de emergência, que termina às 23:59 de 11 de abril desde o passado dia 27 de março.