O número de clientes no ateliê de Luisarda Matsinhe, 26 anos, disparou nas últimas semanas e o principal pedido são as máscaras de capulana, uma alternativa de baixo custo que, além da proteção face à covid-19, “exalta a africanidade”.
No pequeno ateliê de Luisarda Matsinhe, no interior de um dos bairros periféricos de Maputo, agora só se produzem máscaras de capulana e o número das pessoas que as procuram é quase 10 vezes superior ao que costumava receber em dias normais.
“Por dia, nós recebíamos cinco pessoas, mas agora estamos a falar de 30 a 50 pessoas. Parece que as pessoas estão a tomar consciência da ameaça que esta doença representa”, disse à Lusa a jovem costureira.
Na quarta-feira, o Governo moçambicano anunciou que passa a ser obrigatório o uso de máscaras nos transportes e em aglomerações de pessoas, medidas que visam evitar a propagação do novo coronavírus no país.
O preço das máscaras de Luisarda Matsinhe varia entre 50 (60 cêntimos de euro) e 70 meticais (quase um euro), um valor relativamente baixo quando comparado com as convencionais, estimadas entre 200 (quase três euros) e 400 (5 euros) meticais nas farmácias da capital moçambicana.
“A ideia é boa porque são máscaras que dá para lavar depois de usar. Assim, comprei duas, uma para mim e a outra para minha filha”, afirma à Lusa Rosa Eugénio, uma das clientes.
Mas além da proteção contra a covid-19, quem encomenda as máscaras de Luisarda procura também a estética, numa linha simples e alegre, resultante das cores vivas da capulana.
“Escolher a capulana deveu-se ao nosso contexto: somos africanos”, frisa a costureira, que, além da paixão pela moda e costura, é estudante do último ano do curso de jornalismo na Escola Superior de Jornalismo.
Mas os bons momentos do pequeno ateliê de Luisarda não são comuns em Maputo, com o comércio a ressentir-se das medidas de restrição que resultam do estado de emergência devido ao novo coronavírus.
A Feira de Artesanato, Flores e Gastronomia de Maputo (Feima) é um entre vários exemplos, com os vendedores sem clientes e sem saber o que o futuro reserva.
“Em tempos normais, nós tínhamos uns cinco a seis clientes por dia que compravam alguma coisa. Agora, ficamos uma semana sem ver um cliente”, lamenta à Lusa Frederico António, um pintor que vende os seus trabalhos na Feima.
A vida dos vendedores de artesanato na Feima já era difícil e alguns já pensavam voltar às ruas, mas agora, com a cidade a funcionar a meio gás, a situação piorou.
Hoje, com o futuro do seu negócio incerto, as necessidades de Frederico António, tal como tantos outros vendedores, fazem-no pensar em outras alternativas, mas a falta de fundos é um obstáculo.
“Nós não temos a cultura de ter um fundo guardado. Não temos fundos para investir em outros negócios”, acrescenta o pintor.
Os últimos registos oficiais sobre o novo coronavírus em Moçambique indicam um total de 20 casos, sem vítimas mortais, e o país vive em estado de emergência durante todo o mês de abril, com espaços de diversão e lazer encerrados e proibição de todo o tipo de eventos e de aglomerações.
Durante o mesmo período, as escolas estão encerradas e a emissão de vistos para entrar no país está suspensa.
O número de mortes provocadas pela covid-19 em África é de 700 num universo de mais de 13 mil casos registados em 52 países, de acordo com a mais recente atualização dos dados da pandemia naquele continente.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 107 mil mortos e infetou mais de 1,7 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Dos casos de infeção, quase 345 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.