As autoridades na Guiné-Bissau admitiram hoje que vão tomar medidas «mais drásticas e restritivas» no país, tendo em conta o aumento do número de infetados pelo novo coronavírus.
"Em face do agravamento do estado de propagação, com o aumento de número de infetados, vimos obrigados a assumir medidas mais drásticas e restritivas a nível de todo o território nacional em matéria de isolamento obrigatório, deslocação no território nacional, transportes, comércio e restauração, mercados e estabelecimentos comerciais, cerimónias fúnebres, medidas de acompanhamento e de apoio aos cidadãos, e na gestão de donativos", referiu o primeiro-ministro Nuno Nabian.
Nuno Nabian foi nomeado primeiro-ministro pelo autoproclamado Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló.
Numa mensagem na rede social Facebook, após uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros, na sequência do prolongamento do estado de emergência até 26 abril, Nuno Nabian explicou que vão ser medidas "acutilantes" e "necessárias para reforçar o combate e a prevenção" ao novo coronavírus.
Segundo Nuno Nabian, a situação na Guiné-Bissau é preocupante porque com cerca de dois milhões de habitantes já tem 40 casos positivos.
"Não nos resta mais alternativas, se não reforçar a quarentena e exortar a nossa população a redobrar higiene, distanciamento social e uso permanente de máscaras, assim como recomendamos a reduzirmos a nossa circulação apenas dentro das áreas geográficas da nossa residência", sublinhou.
Na reunião extraordinária do Conselho de Ministros ficou também decidido aumentar os apoios, nomeadamente reforçar o estoque de 20 mil testes gratuitos existentes, proceder à distribuição de "forma justa" de 620 toneladas de arroz, doadas por uma empresa e pela Presidência da República e adquiridas pelo Ministério das Finanças.
O Governo de Nuno Nabian decidiu igualmente garantir refeições e incentivos aos técnicos de saúde e medicamentos para os infetados.
Foram também colocadas tendas de rastreio nas entradas das principais cidades do país e as autoridades admitem recorrer aos hotéis para acolher doentes infetados.
As autoridades de saúde da Guiné-Bissau elevaram hoje para 40 o número de casos de covid-19 no país.
No âmbito do combate ao novo coronavírus, as autoridades guineenses declararam o estado de emergência, que foi renovado sábado até 26 de abril, bem como o encerramento das fronteiras aéreas, terrestres e marítimas na Guiné-Bissau, medidas que foram acompanhadas de uma série de outras restrições à semelhança do que está a acontecer em vários países do mundo.
Uma das restrições só permite que as pessoas circulem entre 07:00 e as 11:00 locais (menos uma hora que em Lisboa).
A covid-19 atingiu a Guiné-Bissau num momento em que o país vive mais um período de crise política, depois de o general Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor das eleições pela Comissão Nacional de Eleições, se ter autoproclamado Presidente do país, enquanto decorre no Supremo Tribunal de Justiça um recurso de contencioso eleitoral apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira.
Umaro Sissoco Embaló tomou posse numa cerimónia dirigida pelo vice-presidente do parlamento do país Nuno Nabian, que acabou por deixar aquelas funções, para assumir a liderança do Governo nomeado pelo autoproclamado Presidente.
O Governo demitido por Umaro Sissoco Embaló, do primeiro-ministro Aristides Gomes, mantém o apoio da maioria no parlamento da Guiné-Bissau.
O Governo liderado por Nuno Nabian ocupou os ministérios com o apoio de militares, mas Sissoco Embaló recusa que esteja em curso um golpe de Estado no país e diz que aguarda a decisão do Supremo sobre o contencioso eleitoral.
Depois de os ministérios terem sido ocupados, as forças de segurança estiveram em casa dos ministros de Aristides Gomes para recuperar as viaturas de Estado.
Na sequência da tomada de posse de Umaro Sissoco Emabaló e do seu Governo, os principais parceiros internacionais da Guiné-Bissau apelaram a uma resolução da crise com base na lei e na Constituição do país, sublinhando a importância de ser conhecida uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça sobre o recurso de contencioso eleitoral.
O Supremo Tribunal de Justiça remeteu uma posição sobre o contencioso eleitoral para quando forem ultrapassados as circunstâncias que determinaram o estado de emergência no país.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 114 mil mortos e infetou mais de 1,8 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Dos casos de infeção, quase 400 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.