O diretor do departamento africano do Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que a discussão do programa de financiamento a Moçambique será retomada nas próximas semanas, mas salientou que é preciso que a dívida seja sustentável.
"Antes da pandemia, estávamos em discussões sobre um programa de médio prazo para apoiar Moçambique, mas essas discussões provavelmente demorariam meses, por isso mudámos para a facilidade de crédito rápido e suspendemos as discussões sobre o programa", respondeu Abebe Aemro Selassie, quando questionado pela Lusa durante a conferência de imprensa virtual, que decorreu hoje em Washington, sobre as perspetivas para Moçambique.
Na conferência de imprensa que serviu para apresentar as principais conclusões do relatório sobre as Perspetivas Económicas Regionais para a África Subsaariana, hoje divulgadas, Selassie explicou que "serão apresentadas novas projeções para Moçambique nas próximas semanas, quando processarmos o pedido de ajuda das autoridades moçambicanas", mas alertou que "antes de emprestarmos temos de garantir que a dívida é sustentável".
De acordo com as previsões do Fundo, divulgadas hoje, a dívida pública de Moçambique deverá aumentar de 109% em 2019 para 125,4% do PIB este ano, descendo ligeiramente para 124,9% em 2021.
Na conferência de imprensa, Selassie salientou que o FMI tem 11,5 mil milhões de dólares (cerca de 10,5 mil milhões de euros) disponíveis para ajudar os 32 países que já solicitaram ajuda, e precisou que, deste valor, cerca de 300 milhões de dólares (quase 275 milhões de euros) serão para perdoar pagamentos que os países tinham de fazer relativamente a empréstimos do Fundo durante este ano.
Questionado sobre a razão de defender um perdão da dívida oficial bilateral (países e instituições financeiras multilaterais), e não relativamente aos empréstimos comerciais ou às emissões de dívida soberana feitas nos mercados internacionais, Selassie disse que a análise "tem de ser feita caso a caso" e sublinhou que o apoio da comunidade internacional é fundamental.
"Mesmo antes da pandemia, as economias da região já tinham níveis de dívida muito elevados, e o efeito das medidas contra a covid-19 vai fazer com que a dívida aumente em muitos países, e daí estarmos a ser muito proativos", disse Selassie, acrescentando que é muito importante "qualquer alívio de dívida dado pelos credores oficiais, porque isso vai ajudar os países a lidarem com as dificuldades".
Embora não respondendo diretamente à questão de defender um alívio da dívida por parte dos credores oficiais e não pelos investidores em títulos de dívida soberana ou credores de empréstimos comerciais, Selassie disse, ainda assim, que qualquer ajuda é preciosa: "Fiquei muito feliz com a declaração de apoio do G20 e fico ainda mais feliz que o setor privado esteja a considerar dar um alívio aos países mais impactados, porque não consigo sublinhar o suficiente o quão excecionais são estes tempos que atravessamos".