A presidente do PAICV pediu hoje a realização de um «trabalho aturado» para identificar as «falhas graves» na gestão do processo que resultou em mais 45 casos de covid-19 entre trabalhadores de um hotel na Boa Vista.
“Para o PAICV é preciso fazer um trabalho aturado para identificar todos os erros e falhas cometidos, desde o início e que são graves, na gestão deste dossier. Assumir o erro, como fez o primeiro-ministro, foi um primeiro passo importante”, disse a presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Janira Hopffer Almada, em conferência de imprensa, na cidade da Praia.
No domingo, perante forte pressão dos próprios a partir do interior, as autoridades de saúde locais deixaram que os cerca de 200 trabalhadores terminassem a quarentena no hotel, passando para quarentena domiciliária.
No entanto, rapidamente surgiram relatos públicos de incumprimento dessas medidas no exterior, bem como das medidas de proteção individual no interior do hotel, que registou em 19 de março o primeiro caso de infeção pelo novo coronavírus em Cabo Verde, um turista inglês, de 62 anos, que acabou por morrer poucos dias depois.
Numa declaração ao país na quarta-feira, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, disse que o que aconteceu no hotel na Boa Vista, com os 45 novos casos de covid-19, representa uma “dura lição”, assumindo “erros” e garantindo que vai “endurecer” as medidas de isolamento.
Para a presidente do PAICV, não era de esperar outra postura do chefe de Governo, tendo em linha de conta a gravidade da situação.
“É que, neste momento da evolução da pandemia nas ilhas e no mundo, os custos sanitários e sociais de erros desta envergadura são muito elevados”, salientou, dizendo, por outro lado, que é preciso serem tomadas medidas para que os erros não voltem a acontecer.
“Tendo reconhecido a gravidade do erro e a dureza das consequências, o Governo deve agora, dar o passo seguinte: ou seja, tirar todas as ilações e assumir, na plenitude, as suas responsabilidades”, entendeu a líder partidária.
Relativamente aos trabalhadores, Janira Hopffer Almada disse que “em nenhuma circunstância” devem ser culpabilizados e estigmatizados, referindo que estiveram “confinados, sem as condições de proteção individual e de isolamento, e sem acompanhamento adequado das autoridades, nos moldes apropriados, durante 25 dias”.
A presidente do PAICV defendeu ainda a implementação de medidas de política com “caráter de urgência”, para uma maior proteção da sociedade e dos cidadãos, bem como reforçar a capacidade de resposta em matéria de equipamentos de combate ao coronavírus.
Relativamente ao estado de emergência no país, que hoje foi prorrogado, Janira Hopffer Almada defendeu igualmente que devem ser implementadas “medidas enérgicas e eficazes” de proteção dos cabo-verdianos.
“Neste momento de luta, que deve ser conjunta, é importante, igualmente, promover a colaboração política entre todos os atores políticos e reforçar a mobilização da sociedade e dos cidadãos”, mostrou.
Cabo Verde conta com 55 casos positivos de covid-19, sendo 51 na Boa Vista, três na cidade da Praia (Santiago) e um em São Vicente.
O Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, anunciou hoje a prorrogação do estado de emergência até 02 de maio nas três ilhas com casos diagnosticados de covid-19 e até 26 de abril nas restantes.
A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 140 mil mortos e infetou mais de 2,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 450 mil doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.