Os maiores movimentos de pessoas na cidade da Praia registam-se nas lojas, mercados e supermercados, onde os preços mantêm-se inalterados, a proteção mínima e a palavra de ordem é sobreviver às restrições impostas por causa do novo coronavírus.
Sandra Pires trabalha a partir de casa e tira um tempinho para fazer compras. Apressada, não demora mais de 10 minutos num supermercado, no bairro de Terra Branca.
No dia em que conversou com a agência Lusa, disse que se esqueceu de usar máscara protetora, mas tem constatado que a maioria das pessoas tem seguido as regras na capital cabo-verdiana.
“Não saio muito de casa, mas tenho visto pouco movimento" nas ruas, afirmou Sandra Pires, adiantando que prefere fazer compras à tarde, período em que há menos movimentação nas lojas e supermercados, pelo menos no bairro onde mora.
Quanto aos produtos que leva para casa, a moradora da cidade da Praia disse que compra “os de sempre” e ainda não constatou nenhuma diferença ao nível dos preços.
De poucas palavras, Sandra Pires disse que tem tentado gerir estes dias de distanciamento social, juntamente com a filha, com algumas atividades “para compensar” o muito tempo disponível.
No supermercado, um funcionário arruma as prateleiras, coloca os preços nos produtos, mas prefere dar entrevista sob anonimato, dizendo que o movimento por estes dias é “razoável” e que as pessoas preferem fazer as suas compras no período de manhã.
Com a sua máscara na testa, e não a proteger o nariz e boca, este funcionário não tem dúvidas em afirmar que tem constatado “muito pouco” respeito pelas regras: “As pessoas chegam, entram, sem luvas, sem máscaras, tanto faz”.
Por outro lado, entendeu que a empresa deveria elaborar um plano para proporcionar mais proteção não só aos clientes, mas aos seus funcionários, que trabalham todos os dias e que estão mais expostos a riscos de contaminação.
“Deveria criar condições para isso. Tentamos proteger-nos a nós mesmos, mas por mais que tentas proteger, sempre é pouco para esta doença. E nós, aqui na loja, não temos como fugir dela, se ela vier”, afirmou o trabalhador.
Nas declarações à Lusa no meio do serviço, mostra as mãos sem luvas, dizendo que, para tal trabalho, as de plástico não demoram dois minutos, sugerindo, por isso, luvas de pano, para mais segurança e proteção.
Mas na ausência desse material de proteção individual, afirmou que lava as mãos “sempre” com água e sabão e desinfeta com álcool e gel.
Quanto ao tipo de clientes que, por estes tempos, frequentam o supermercado, o funcionário disse que são na sua maioria jovens e que, por ser uma loja pequena, as pessoas têm pressa em fazer as suas compras, em todos os produtos, cujos preços disse que permaneceram inalterados.
Ainda na Terra Branca, mais precisamente no mercado de legumes e verduras, Ondina Semedo, mais conhecido por Mana, voltou a montar a sua banca de venda, após 22 dias em casa.
Os mercados de verduras e legumes da Praia estão a funcionar com metade das vendedoras, em regime de diário de rotatividade, uma medida da autarquia da capital, para seguir as restrições do Governo para evitar a propagação do novo coronavírus.
A vendedora disse à Lusa que não teve alternativa senão voltar a vender os seus produtos no mercado, porque mais de 20 dias depois não recebeu nem uma cesta básica, nem o subsídio de 90 euros para trabalhadores afetados pelas medidas restritivas.
“As recomendações são para ficar em casa, mas não consegui aguentar mais, vim arranjar alguma coisa para comer com a minha família”, disse, afirmando que o tempo que esteve ausente foi suficiente para perder muitos clientes.
Com a sua máscara a proteger o nariz e boca, Mana espera que não haja um aumento generalizado de casos na Praia, para a obrigar a ir novamente ficar em casa.
Nesse mercado, disse que as pessoas tentam respeitar as distâncias mínimas e protegem-se com máscaras e as vendedoras lavam as mãos sempre, desinfetam as mães e o espaço.
A cidade da Praia regista 13 casos de covid-19, sendo 10 dos quais registados desde sexta-feira.
A estes, junta-se mais um no Tarrafal (Santiago), 52 na ilha da Boa Vista e um na ilha de São Vicente, totalizando 67 no país.
Um dos casos da Praia (Santiago) já foi considerado como recuperado da doença e o primeiro caso do país, na ilha da Boa Vista, terminou na morte do turista inglês, de 62 anos.
O país renovou o estado de emergência, para vigorar até 02 de maio, nas ilhas com casos positivos e até 26 de abril nas restantes seis ilhas habitadas, sem casos registados com covid-19.
A nível global, a pandemia já provocou mais de 164 mil mortos e infetou mais de 2,3 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 525 mil doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.