A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) considerou hoje que os projetos de exploração de gás em Moçambique a arrancar até 2024 ainda chegam para promover um forte crescimento económico, apesar de adiado o investimento Mamba da Área 4.
"Não temos dúvidas, Moçambique tem uma enorme quantidade de gás e, falando da Área 1, só as duas unidades de processamento de LNG (gás natural liquefeito, sigla inglesa) valem oito mil milhões de dólares [7,3 mil milhões de euros]", refere Simone Santi, presidente do pelouro dos Recursos Minerais, Hidrocarbonetos e Energia da CTA, à Lusa.
Associado só àquele investimento há "um plano de conteúdo local negociado e acordado no valor de 2,4 mil milhões de dólares para criar valor com empresas moçambicanas", acrescenta - e um dos eixos fundamentais do desenvolvimento passa por "manter transparência e oportunidades para empresas residentes no país e empresas moçambicanas", realça.
"É importante continuar a criar confiança, condições e oportunidades para o setor privado moçambicano prestar serviços não só na construção, mas também no projeto 'offshore', nas áreas de manutenção, 'catering', apoio a navegação e logística", descreve.
Santi está confiante: acredita que "não haverá atrasos na execução do projeto da Total, na Área 1 da bacia do Rovuma e a entrega da primeira carga de LNG para 2024 não será comprometida" - alinhando com aquilo que a própria petrolífera francesa tem dito.
Um sinal importante, refere, é que o consórcio CCS JV (que junta Saipem, Mc Dermott e Chiyoda) responsável pela engenharia, aprovisionamento e construção "continua a trabalhar. A engenharia do projeto está a respeitar o 'timing'", sublinha.
Além da Área 1, a plataforma flutuante Coral Sul da Área 4 (liderada pela Exxon Mobil e ENI) vai começar a produzir daqui a dois anos: "mantém-se a perspetiva do 'first gas' em 2022".
Apesar de ser o menor dos três projetos de gás da bacia do Rovuma, é quanto basta para "trazer um benefício em 'royalties' para o Governo que vai crescer ao longo dos anos até ultrapassar 1.000 milhões de dólares por ano".
A confederação patronal continua a acreditar na contratação de 15 mil trabalhadores em todo o país graças ao impulso do LNG, além de benefícios para estudantes, universidades e institutos técnicos.
"O CTA e o setor privado continuarão a dialogar de maneira transparente como parceiros das empresas operacionais para que o ambiente de negócios seja o mais viável possível e seja um fator positivo na avaliação de investimentos", acrescenta.
Do lado do Governo, a CTA pede "flexibilidade" ligada a necessidades pontuais do setor, como sejam a rotatividade da mão-de-obra, a necessidade de ter técnicos altamente especializados e formadores, bem como soluções para questões de logística e fiscalização para evitar especulação de preços".
Mesmo sem uma data prevista para a decisão final de investimento, não se pode "excluir completamente o projeto da Área 4 Mamba”, mas é preciso “ter em conta que a indústria de gás e petróleo depende muito da flutuação de preços no mercado internacional e da necessidade de ser competitiva".
Todas estas equações foram viradas do avesso com a queda da demanda mundial provocada pela pandemia de covid-19.
"Nesta fase, é também importante considerar o setor da energia, hidrocarbonetos e minas como um setor essencial para a economia moçambicana, assim como outros setores que vão atrair capital e moeda estrangeira de modo a estabilizar o metical", sublinha.
Por outro lado, este será o setor que dará um impulso para outros como as energias renováveis, agricultura (fertilizantes) e turismo, nomeadamente através de viagens de negócios e conferências.
"Moçambique continua a ser um dos países mais 'sexy' no setor de hidrocarbonetos e a próxima ronda [de licenciamento para prospeção] vai demonstrar um alto interesse por parte de novos operadores", conclui.
A petrolífera norte-americana ExxonMobil anunciou oficialmente no início do mês o adiamento, sem prazo, da decisão final de investimento para o seu megaprojeto de gás natural nas jazidas Mamba da Área 4 no Norte de Moçambique, onde a portuguesa Galp é parceira.
Está previsto que o megaprojeto produza 15 milhões de toneladas por ano (mtpa) de LNG, um valor superior aos 12,88 mtpa que a Área 1, liderada pela Total, prevê fornecer a partir de 2024.