A pandemia cancelou a marcha das comemorações do 25 de Abril, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, onde o silêncio está instalado e poucas pessoas arriscaram sair de casa com os cravos na mão para celebrar a liberdade.
É bem perto do Cinema São Jorge que Adriano Domingues sobe aquela avenida, demonstrando “muita tristeza” por ver o espaço vazio.
“Sinto muita tristeza, muita tristeza, profundamente. Uma mágoa infinita. Eu já cá estava no dia 25 de Abril [de 1974] e ver o que estou a ver é muito triste. Algo que eu nunca pensei viver”, diz à agência Lusa, visivelmente emocionado.
A viver há mais de 50 anos na capital portuguesa, Adriano Domingues contou que esteve no Quartel do Carmo, aquando da “Revolução dos Cravos”, há 46 anos, revelando que foi um “grito de alegria”.
“Vivi o 25 de Abril intensamente e todos os anos prometi a mim mesmo que, enquanto eu viver, vou descer a Avenida [da Liberdade] quer chova, quer neve, ou venha trovoada ou bom tempo”, afirma.
A terminar a sua caminhada, o homem de cerca de 70 anos reitera que “é terrível” ver a Avenida da Liberdade sem à aglomeração de milhares de pessoas, como em outros anos.
“Olhar para esta avenida assim é terrível… Esta caminhada é solitária, de acordo com o momento que estamos a viver. É um pesadelo”, desabafa.
Do outro lado da rua, encontra-se uma jovem com um cravo no cabelo. Está sozinha à espera de uma amiga.
À Lusa, Eunice Martins adianta que não faz sentido ficar em casa no dia 25 de Abril, mostrando-se pouco preocupada com a pandemia da covid-19.
“Apesar das circunstâncias, não faz sentido - para mim - ficar em casa num dia como este”, indica, frisando que sentiu “necessidade de sair à rua”.
Para Eunice Martins, mais pessoas podiam ter saído à rua, respeitando as medidas de segurança.
“Acho que podiam estar mais pessoas na rua, como eu estou e como estava aquele senhor com a bandeira de Portugal”, observa.
O senhor que estava com bandeira de Portugal descia a avenida pelo meio da rua, em contramão, sem demonstrar medo dos carros que por lá passavam.
“Não tenho, graças a Deus não tenho [medo]”, diz Carlos Ferreira.
O homem de cerca de 70, que saiu da rotunda do Marquês de Pombal, revelou que também não tem medo do novo coronavírus: “Eu não tenho medo do vírus, estou aqui à vista”.
Carlos Ferreira acrescentou que ia concluir a sua caminhada como costuma fazer todos os anos, mas desta vez “só”.
“Vou por aí abaixo, concluir o resto, como costumo fazer. Estou com ideias de terminar no Rossio, que era lá que acabava”, conclui.
Ao início da tarde, a Avenida da Liberdade esteve cortada ao trânsito, por causa de um concerto do Dino D’Santiago com Branko, em frente ao Cinema São Jorge, às 14:30, que terminou meia hora depois, com a “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso.
O concerto teve transmissão ‘online’ à hora da marcha anual da comemoração do 25 de Abril, que não se realizou.