A European Travel Commission (ETC), entidade europeia de turismo, estimou hoje que o setor do turismo europeu necessite de 375 mil milhões de euros para recuperar da crise gerada pela covid-19 e para restabelecer as suas operações.
“As estimativas da União Europeia [UE] são à volta de 255 mil milhões de euros para ajudar os Estados-membros a recuperar a indústria e mais cerca de 120 mil milhões de euros para investimento extra, para ajudar os empreendedores e operadores a restabelecerem as suas operações”, afirma em entrevista à agência Lusa o diretor executivo da ETC, Eduardo Santander.
Com o turismo europeu estagnado, devido às medidas restritivas adotadas pelos Estados-membros da UE para tentar conter a propagação da pandemia, incluindo com limitações nas viagens entre países, o responsável assinala que “o turismo passou de [uma atividade] de 100% para zero” e está hoje “reduzido a praticamente 10% do que era”, dadas as perdas totais.
Eduardo Santander, que lidera a entidade responsável pela promoção e divulgação da Europa enquanto destino turístico e da qual faz parte o Turismo de Portugal, indica à Lusa que “tudo é igualmente afetado por a cadeia de valor do turismo estar interconectada”.
“Desde as empresas de cruzeiros, passando por outros operadores e, em particular, pelas companhias aéreas, todos têm enormes perdas, com quedas entre 45% para as transportadoras aéreas – que fazem alguns outros serviços além de passageiros – e os 70% para hotéis e restaurantes”, precisa o responsável espanhol.
Notando que em países como Portugal e Espanha “há agregados familiares que dependem do turismo, de forma direta ou indireta”, Eduardo Santander estima que esta crise “se reflita num elevado desemprego” no setor a nível europeu.
E, numa alusão aos dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, o responsável alerta para que “podem estar em causa perdas de 10 milhões de postos de trabalho na Europa se a situação se mantém nos próximos meses”.
Mais afetados, de acordo com o diretor da ETC, serão “os países onde o PIB [Produto Interno Bruto] está mais dependente do turismo, como é o caso da Grécia, Portugal, Espanha e Itália”, sendo que, além disso, estes últimos foram particularmente afetados pelo novo coronavírus.
Ainda assim, em todos os Estados-membros, as empresas turísticas enfrentam “um enorme problema de liquidez e não vão sobreviver se não houver uma intervenção ou injeções de capital pelos Estados ou outros tipos de ajuda da UE”, sublinha Eduardo Santander.
“E estamos a falar também de grandes companhias e não só da Europa do sul, estamos a falar, por exemplo, das companhias aéreas Lufthansa, TUI, grandes marcas alemãs, entre outras”, elenca o responsável, apelando para “medidas extraordinárias” para financiar o setor, inclusive por parte da Comissão Europeia.
Outro apoio que, para Eduardo Santander, urge dar a estas empresas são garantias estatais em casos de cancelamento de férias ou de viagens, com os Estados-membros a assumirem o risco perante a emissão de ‘vouchers’ aos consumidores visando adiamentos ou futuros reembolsos.
“Sem liquidez, nenhuma empresa irá sobreviver, é uma questão de proteger o mercado”, justifica, saudando as “medidas certas” que estão já a ser adotadas neste âmbito em Portugal.
Ainda assim, Eduardo Santander diz à Lusa que o setor começa a “ver alguma luz ao fundo do túnel”, perante o levantamento faseado das restrições nas viagens dentro da Europa, argumentando que é preciso agora “lutar para recuperar a imagem” do turismo europeu, “para não só restabelecer a procura, como também para restabelecer a confiança entre futuros visitantes”.
Sediada em Bruxelas, a ETC foi fundada em 1948, com Portugal como um dos membros fundadores, e é uma organização sem fins lucrativos composta por 33 organismos nacionais de promoção turística de países europeus.