Os países do golfo Pérsico e a Rússia serão os "vencedores", num contexto de preços do petróleo baixos, enquanto países como Brasil e Angola perdem atratividade para investimentos na produção, afirma o presidente executivo da Partex.
"Vai haver um colapso muito grande no mundo da procura e é evidente que quem vender petróleo e gás a preços mais baixos e mais competitivos serão os vencedores. E estes serão tradicionalmente os países do Golfo Pérsico, com custos de produção muito baixos, e a Rússia", afirmou numa entrevista à Lusa António Costa e Silva.
Como exemplo, o gestor apontou a Arábia Saudita onde o custo do petróleo "é da ordem dos 3,3 dólares por barril".
Portanto, a Arábia Saudita tem sempre, com os Emirados Árabes Unidos e o Kuweit, "vantagens competitivas", reforçou, e a Rússia também, porque embora tenha custos de produção mais elevados, tem certas vantagens, uma delas é o facto de "o rublo (moeda russa)não estar indexado ao dólar, ao contrário das moedas de todos os países da Península Arábica".
“Há vantagens e inconvenientes neste cenário global, mas claramente os grandes produtores mundiais do Golfo Pérsico e a Rússia serão ganhadores", rematou.
Ao contrário, "muitos dos outros países que têm custos de produção mais elevados, como a Argélia, ou têm problemas muito difíceis de fragmentação política, como a Líbia, o Iraque, a Venezuela - que está numa situação extremamente crítica- e países como a Nigéria e Angola, que têm muita da sua produção 'off-shore' [em mar], e em que já não tem havido investimento nos últimos anos, não tem havido novos campos para repor a produção e os custos são elevados, vão ter bastantes mais dificuldades para se continuarem a afirmar no mercado mundial", considerou .
Angola, que aderiu recentemente à OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo], "nem sequer conseguiu produzir ao nível da quota estabelecida, isto é, a sua produção, já muito sacrificada hoje, vai ser mais com a falta de investimento", assinalou.
Também em África, o caso da Nigéria, em que o crude "já não era muito apetecível nos mercado internacionais, não consegue exportar para os Estados Unidos". E, nos últimos dias, "há indicações de que cerca de 20 navios que estavam previstos para levar crude nigeriano nem sequer tiveram hipótese de o colocar no mercado".
Para Costa e Silva, este é outro problema para a indústria e para o mercado, "é que não é só o armazenamento terrestre [de petróleo] que está no limite da saturação, é também o armazenamento marítimo. São superpetroleiros, que têm milhões e milhões de barris de petróleo e não conseguem colocar o produto no mercado".
Quanto ao Brasil, considerou-o como um caso “muito complexo”.
"O Brasil é um produtor de petróleo e de gás, mas tem problemas e constrangimentos muito grandes. E não podemos esquecer que muita da produção é 'offshore' [no mar] que é sempre mais cara do que 'on-shore' [em terra]".
Costa e Silva prevê que a queda da procura será "prenunciada" e depois haverá "uma recuperação extremamente lenta". Por isso, "vamos ter 2020, 2021 e provavelmente 2022 de preços relativamente baixos" do petróleo, afirmou.
Até porque o consumo mundial depende muito da mobilidade e o que "este novo coronavírus veio trazer é uma restrição total da mobilidade".
Além disso, ao contrário do que existia no passado, quando as crises eram mais ou menos localizadas, havia outras áreas do mundo em desenvolvimento, como a Ásia, e dentro deste continente a China, que podiam puxar pela ecomomia mundial.
Agora, "vamos ver como é que vai ser o comportamento da China", o maior importador de petróleo do mundo, com 10 milhões antes da crise. Para já, começou a reativar as importações de petróleo, porque "os chineses têm um pensamento estratégico claro e querem comprar petróleo barato, como fizeram na crise anterior, de 2014, para preencherem as suas reservas estratégicas. Isso pode ser um fator importante para tentar estabilizar o mercado no futuro", destacou Costa e Silva.
Além disto, o que poderia ajudar "era que o acordo da OPEP funcionasse", disse.
Para Costa e Silva, “o acordo é curto, embora seja o maior acordo da história, da chamada 'OPEP +, com a Rússia e outros países".
Porém, "um corte de 9,7 milhões de barris por dia, com a capacidade saturada do armazenamento no mundo não é suficiente para corrigir este problema", assegurou Costa e Silva, considerando que "o corte de 20 milhões de barris por dia, falado no âmbito da cimeira do G20 (...) seria o ideal".
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e outros produtores chegaram a um acordo, a 12 de abril para cortar a produção em 9,7 milhões de barris diários.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 204 mil mortos e infetou mais de 2,9 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Perto de 800 mil doentes foram considerados curados.