As aulas na televisão e na rádio em Cabo Verde, implementadas devido à pandemia da covid-19, arrancaram hoje, mas nem todos os pais puderam assistir juntamente com os seus filhos em casa.
No quinto ano de ensino obrigatório, a filha de Cristina Mendonça já tinha esquecido algumas coisas após mais de um mês sem aulas, mas notou que a primeira aula já deu para aprender e relembrar matérias da disciplina de Língua Portuguesa.
Moradora em Vila Esperança, cidade da Praia, Cristina Mendonça, formada em Tecnologias de Informação e atualmente desempregada, enalteceu a iniciativa, indicando que a família também tem acompanhado as aulas em Portugal, que decorrem há uma semana.
Cristina Morais, jornalista, também se levantou cedo para assistir às aulas na televisão, apesar de a filha mais velha, com cinco anos, ainda só frequentar o pré-escolar.
E como vai começar o primeiro ano de ensino obrigatório no próximo ano letivo, a filha assistiu e gostou das aulas, mas criticou apenas a duração, de apenas 20 minutos.
“Globalmente, acho que é uma iniciativa positiva. As crianças começam a recuperar o ritmo da escola. A linguagem é acessível, num cenário igual a uma escola”, descreveu Cristina Morais, referindo que, por ser de curta duração, a filha ainda continuou a assistir às aulas do segundo ano.
A mãe considerou que a iniciativa “é interessante e envolve os alunos”, sugerindo aulas de 30 a 40 minutos.
“Mas gostamos”, acrescentou à Lusa, destacando a mudança de professores de ano para ano letivo, mas também a música infantil nos intervalos de cada aula.
De acordo com o calendário do Ministério da Educação, o pré-escolar começa com atividades na próxima sexta-feira.
No primeiro dia de aulas à distância, Cristina Morais já constatou críticas de vários pais e encarregados de educação que não conseguiram assistir por algum motivo, mas indicou que além da televisão, pode-se assistir nas rádios e pela Internet.
Além disso, as aulas serão repostas no período da tarde e os professores enviam as fichas de exercícios aos seus alunos.
O dia foi igual aos anteriores para Anizabela Rodrigues e os seus filhos, já que não conseguiram assistir ao primeiro dia de aula, explicando que a Televisão Digital Terrestre (TDT) não funcionou.
“O rádio até funciona, mas os miúdos não estão acostumados”, lamentou a mãe, moradora em Achada São Filipe, cidade da Praia, esperando poder ter tudo em condições para os filhos assistirem nos próximos dias.
O Ministério da Educação de Cabo Verde está a implementar um programa educativo denominado “Aprender e estudar em casa”, alternativa ao encerramento das escolas cabo-verdianas desde 20 de março, para impedir a transmissão do novo coronavírus no arquipélago.
O programa consiste em aulas na televisão, na rádio e outras plataformas.
O Ministério explicou que desenvolveu o programa para que os estudantes possam manter o vínculo com o meio educativo e o contacto com os docentes e os conteúdos de ensino-aprendizagem, enquanto estão em casa.
Um outro cenário é, após o levantamento do estado de emergência, prever aulas presenciais nas ilhas com baixo risco epidemiológico de propagação da covid-19, conforme parecer da Comissão Técnica do Ministério da Saúde, e com o cumprimento das normas de distanciamento social e de higienização asseguradas pela gestão das escolas.
O plano prevê a produção de 620 conteúdos em televisão e rádio, de 20 minutos cada, abrangendo do 1.º ao 12.º ano, de forma gradual, que serão transmitidos através dos canais de televisão – TCV e canais da Green Studio, no canal aberto e na ZAP –, e na rádio: Radio Educativa, RCV e Rádios Comunitárias.
Numa nota, o Ministério da Educação admitiu que nem todos os agregados familiares podem ter acesso aos instrumentos que permitam aos educandos ter contacto com estes materiais, explicando que está em curso, por parte dos docentes, a elaboração de materiais em papel, fichas de exercícios que as escolas farão chegar aos alunos, “para que ninguém fique para trás”.
Em Cabo Verde, estão matriculado para o ano letivo 2019-2020 um total de 12 mil crianças na educação pré-escolar, 114.883 na educação escolar pública, sendo 83.499 no ensino básico obrigatório (1.º ao 8.º ano) e 30.096 no ensino secundário (9.º ao 12.º).
Cabo Verde conta com 109 casos da covid-19, distribuídos pelas ilhas de Santiago (55), da Boa Vista (53) e de São Vicente (01).
Um destes casos, um turista inglês de 62 anos – o primeiro diagnosticado com a doença no país, em 19 de março -, acabou por morrer na Boa Vista, enquanto outros dois doentes já foram dados como recuperados.
Desde 18 de abril que está em vigor um segundo período de estado de emergência, mantendo-se suspensas as ligações interilhas e a obrigação geral de confinamento, além da proibição de voos internacionais.
A declaração do atual estado de emergência prevê para as ilhas da Boa Vista, Santiago e São Vicente, todas com casos de covid-19, que permaneça em vigor até às 24:00 de 02 de maio.
Nas restantes seis ilhas habitadas, sem casos diagnosticados da covid-19, a prorrogação do estado de emergência foi mais curta, e terminou às 24:00 de 26 de abril.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 206 mil mortos e infetou quase três milhões de pessoas em 193 países e territórios. Perto de 810 mil doentes foram considerados curados.