A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla inglesa), confirmou hoje, oficialmente, a suspensão da Cabo Verde Airlines do plano de venda de bilhetes BSP, mas a companhia garante estar a negociar uma solução.
“A Cabo Verde Airlines foi suspensa do Billing and Settlement Plan (BSP) da IATA”, confirmou à Lusa fonte oficial daquela organização, depois de a mesma informação já ter sido veiculada por agências de viagens em Portugal, convidadas pela organização internacional a suspenderem imediatamente a emissão de bilhetes em nome da companhia aérea cabo-verdiana.
Questionada pela Lusa, a administração da empresa cabo-verdiana, detida desde março de 2019 por investidores islandeses e que não realiza voos comerciais há mais de um mês devido à pandemia de covid-19, confirmou que está “a trabalhar diligentemente com a IATA para resolver esta suspensão o mais rápido possível”.
“Estamos a trabalhar arduamente para responder a todos os requisitos e obrigações mandatórios para regularizar todos os processos. Estes desenvolvimentos levam tempo e a Cabo Verde Airlines, com o apoio de seus acionistas, espera resolver esta questão de forma a vender bilhetes em tempo útil, antes de retomar as operações no dia 01 de julho”, lê-se na resposta da administração da CVA enviada à Lusa.
A administração acrescentou que “as companhias aéreas do mundo, incluindo a Cabo Verde Airlines, estão a sofrer perdas de receita sem precedentes durante estas circunstâncias excecionais que criaram uma pressão severa nas finanças da companhia aérea”.
Sem concretizar, fonte oficial da IATA explicou que a suspensão de uma companhia aérea do BSP está prevista na resolução 850.15. Essa suspensão pode ser feita, entre outras circunstâncias, em caso de incumprimento de pagamentos, perda de códigos IATA ou cessação de operações.
Contudo, esclareceu a mesma fonte, apesar de não poder usar os processos do BSP “para liquidar fundos devidos por ou a agentes de viagens” abrangidos pelo mesmo plano, uma companhia aérea suspensa pode negociar diretamente com os respetivos agentes a liquidação de pagamentos, relativos nomeadamente à emissão de bilhetes.
A administração da CVA recordou que a pandemia de covid-19 tem representado “implicações importantes para as companhias aéreas e para os seus clientes”, realidade à qual a companhia aérea “não está imune”.
“A pandemia levou uma suspensão total das operações da Cabo Verde Airlines, com a nossa frota total em terra desde 18 de março, quando o Governo de Cabo Verde interrompeu todos os voos internacionais. Estes são tempos difíceis para a indústria global de transporte aéreo e impedir a propagação do vírus foi e é a principal prioridade”, explicou na mesma resposta enviada à Lusa.
Na terça-feira, no parlamento cabo-verdiano, o ministro do Turismo e dos Transportes, Carlos Santos, criticou a “nebulosa que se quer criar” à volta da companhia, aludindo às dúvidas da oposição sobre a situação da CVA.
“Obviamente que com a chegada da covid-19, é inegável também notarmos que, com uma quase anulação das vendas da companhia, a própria matemática diz que iria haver um défice dessa companhia. E é isso que nós estamos a verificar. E aquilo que acontece com a IATA é simplesmente um não cumprimento da parte da companhia”, afirmou, sem concretizar os motivos.
Carlos Santos garantiu ainda que o Governo mantém a aposta na CVA, por se inserir “na estratégia de desenvolvimento do país”, com a implementação de um ‘hub’ aéreo na ilha do Sal, para servir voos de África, América e Europa.
A companhia aérea de bandeira foi privatizada em março de 2019, com a venda de 51% do capital social a investidores islandeses, liderados pela Icelandair. Durante o ano de 2019 avançou ainda a venda de 10% a trabalhadores e emigrantes, e estava prevista a venda da restante participação a investidores institucionais.
A CVA, que conta atualmente com 330 trabalhadores, pretende retomar os voos domésticos em 01 de julho.
Em 22 de março, em entrevista à Lusa, o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, afirmou que a CVA será uma das empresas objeto de medidas de apoio à economia e que a alienação dos 39% que o Estado ainda detém na companhia será adiada.
O presidente da companhia, Erlendur Svavarsson, disse também à Lusa que os acionistas islandeses trabalham numa solução financeira de longo prazo e acreditam que, apesar de afetado, o projeto não está em causa, embora precisem do apoio do Governo cabo-verdiano.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 217 mil mortos e infetou mais de 3,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios.