Macau descartou a possibilidade de avançar com a cobrança de uma taxa turística no território, algo que estava a ser analisado desde o início do ano passado, anunciaram hoje as autoridades.
“Tendo em conta os objetivos do desenvolvimento sustentável da indústria turística de Macau, o estudo concluiu que controlar o crescimento do número de visitantes através da cobrança de uma taxa turística não é a medida mais adequada e eficaz para Macau”, informou em comunicado a Direção dos Serviços de Turismo (DST).
As autoridades justificaram a decisão por a indústria turística ser “suscetível de ser afetada por fatores externos” e “a primeira a ser atingida”, afetando múltiplos setores, em especial em territórios muito dependentes do turismo, como é o caso de Macau, que no ano passado recebeu quase 40 milhões de visitantes, a esmagadora maioria da China continental.
Os protestos pró-democracia em Hong Kong desde junho de 2019 e a pandemia da covid-19 revelaram isso mesmo, segundo a DST de Macau.
Os confrontos em Hong Kong levaram a que “de um aumento mensal de dois dígitos durante os primeiros sete meses de 2019”, o número de visitantes começasse “progressivamente a descer, registando um decréscimo na ordem dos dois dígitos no final de 2019”.
Já este ano, com a covid-19, “o número de visitantes diminuiu de um total de 2,85 milhões em janeiro, para 210 mil em março, registando uma descida superior a 90%”, de acordo com a mesma nota.
Ou seja, “com base nos resultados do estudo, mediante uma análise global das características e das mudanças na atual conjuntura da indústria turística de Macau, o Governo da RAEM [Região Administrativa Especial de Macau] decidiu dar por finda a consideração da cobrança de uma taxa turística”.
As conclusões do estudo divulgadas em janeiro, de resto, já mostravam “divergências nas opiniões”, indicaram as autoridades.
Se a esmagadora maioria dos residentes era a favor da implementação de uma taxa turística em Macau, 80% dos operadores do setor manifestaram oposição.
O estudo de viabilidade de Macau passar a cobrar a taxa turística “mostrou divergências” após a DST ter recolhido um total de 14.900 questionários.
Por outro lado, pouco mais de metade dos visitantes inquiridos afirmaram que se uma taxa turística fosse implementada em Macau tal afetaria a vontade de visitar o território.
Uma das conclusões do estudo apontou que “a cobrança de uma taxa turística reduz a vontade dos visitantes em visitar Macau, o que não favorece a integração de Macau no desenvolvimento da Grande Baía” Guangdong-Hong Kong-Macau.
Um dado importante, já que se trata de um projeto de Pequim de desenvolver uma metrópole mundial, juntando Macau, Hong Kong e nove cidades da província chinesa de Guangdong, uma prioridade para o antigo território administrado por Portugal.
No mesmo estudo referia-se que as razões de cobrança de uma taxa turística variam nos territórios que adotaram a medida, mas que “não há casos em que o controlo do fluxo de visitantes seja a finalidade”.
Finalmente, “na análise dos casos estudados, verificou-se que apenas na fase inicial da cobrança de uma taxa turística há um ligeiro abrandamento do crescimento do número de visitantes”, concluía o estudo.
Em março de 2019, em entrevista à Lusa, a diretora dos Serviços de Turismo disse que estava a ser feito um estudo para a possível aplicação de uma taxa turística no território, como acontece atualmente em Veneza (Itália) e no Japão.
“Estamos a fazer um estudo de comparação em termos das taxas que estão a ser impostas, por exemplo, por Veneza, (…) e pelo Japão”, afirmou Helena de Senna Fernandes.
Macau, um território de cerca de 30 quilómetros quadrados, registou em 2018 mais de 35 milhões de turistas e quase 40 no ano seguinte.