A Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) disse hoje que as medidas de confinamento representam 2,5% do PIB num continente onde só um terço da população consegue lavar as mãos em casa.
"A UNECA estima que um confinamento total durante um mês custe a África cerca de 2,5% do seu PIB anualizado, equivalente a 65,7 mil milhões de dólares [60 mil milhões de euros] por mês, isto sem contar e para além do impacto externo mais alargado da covid-19 em África e dos preços baixos das matérias primas e descidas nos fluxos de investimento", lê-se num relatório divulgado hoje em Adis Abeba.
O documento, que serve de guião para a abertura gradual da economia que está a ser preparada um pouco por todo o continente, alerta que "o isolamento das populações impõe custos extremamente altos às empresas e às pessoas" e pormenoriza que as empresas sondadas pela UNCECA afirmam esta a operar a cerca de 43% da sua capacidade, com mais de 70% dos habitantes dos bairros de lata a admitirem comer menos ou saltar refeições em resultado da covid-19 e 34% a afirmar não ter saneamento básico nem possibilidade de lavar as mãos em casa.
"O confinamento evidencia vulnerabilidades severas, só 1,8 camas de hospital estão disponíveis por cada 1000 pessoas e a nível regional, o risco de propagação da infeção é alto porque só 34% da população em África tem acesso a condições domésticas para lavar as mãos com água e sabão", acrescenta-se no documento.
Defendendo que a abertura da economia não é aplicável a todos por igual, o relatório hoje divulgado pela UNECA afirma que "testar e investigar o contágio ao mesmo tempo que se abrandam as restrições pode ser possível para os países com sistemas de saúde suficientemente fortes e que conseguiram conter a transmissão da covid-19, colocaram medidas preventivas em prática e minimizaram os riscos para os grupos vulneráveis".
No documento, os peritos da UNECA escrevem que a abertura gradual e segmentada está a ser testada nalguns países onde o confinamento falhou, mas alertam que "apesar da doença estar suficientemente sob controlo nestes casos, esta é uma estratégia com mais risco".
As recomendações, espalhadas ao longo das quase 40 páginas do documento, apontam também para que os países aproveitem o facto de terem menos casos que os outros: "a trajetória de infeção da maioria dos países africanos está atrás de outros, o que podem ser uma oportunidade para aprender com a experiência nas outras regiões e nas suas experiências de reabertura das economias".
Os países, conclui a UNECA, devem "aproveitar o tempo extra dado pelo confinamento para rapidamente colocar em prática testes, sistemas de tratamento, medidas preventivas e desenhar cuidadosamente as estratégias de saída do confinamento em colaboração com as comunidades e os grupos vulneráveis".
O número de casos da covid-19 em África ultrapassou hoje os 60 mil e 2.223 pessoas morreram em 53 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), nas últimas 24 horas, o número de doentes infetados passou de 57.746 para 60.657, e o de mortos subiu de 2.151 para 2.223.
O número total de doentes recuperados aumentou de 19.351 para 20.792.
A pandemia afeta 53 dos 55 países e territórios de África, com seis países – África do Sul, Argélia, Egito, Marrocos, Nigéria e Gana - a concentrarem cerca de metade das infeções pelo novo coronavírus e mais de dois terços das mortes associadas à doença.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 276 mil mortos e infetou mais de 3,9 milhões de pessoas em 195 países e territórios. Mais de 1,3 milhões de doentes foram considerados curados.