O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, salientou hoje que a saúde não pode ser transformada em arma e fez um minuto de silêncio pelos profissionais do setor que morrem «para salvar vidas».
O alerta foi deixado um dia depois do Dia Internacional do Enfermeiro, mas também de um ataque a um hospital da organização Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão, que matou mais de duas dezenas de pessoas, incluindo crianças e enfermeiras.
Numa conferência de imprensa ‘online’ na sede da organização, em Genebra, Tedros Ghebreyesus afirmou que ficou chocado e muito triste com a notícia do ataque e acrescentou que os profissionais de saúde, e os civis, nunca deviam ser um alvo e que o mundo precisa de paz para a saúde e de saúde para a paz.
“Num momento de pandemia global peço a todos que deixem a política de lado e deem prioridade à paz, e que haja um cessar fogo global para terminar com a pandemia. A cada dia sem um cessar fogo há mais pessoas a morrer de forma desnecessária”, alertou na conferência de imprensa, destinada a dar conta da evolução do novo coronavírus, que provoca a doença covid-19.
Tedros Adhanom Ghebreyesus alertou para a vulnerabilidade das pessoas detidas face à covid-19 e lembrou também as últimas estatísticas mundiais para dizer que se por um lado hoje as pessoas vivem mais anos e com mais saúde, uma evolução especialmente em países pobres, por outro a taxa de progresso é muito lenta, com a covid-19 a piorar a situação.
Entre outros exemplos questionou como é que em 2020 em cerca de 55% dos países há 40 profissionais de enfermagem e obstetrícia para cada 10 mil pessoas.
E sobre a Assembleia-Geral da OMS, da próxima semana, disse que é uma oportunidade para todos os países se unirem para combater o novo coronavírus e provarem que o mundo é mais do que um grupo de países com bandeiras coloridas.
Na conferência de imprensa, o diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, Michael Ryan, disse que em abril foram registados 35 ataques a profissionais de saúde em 11 países, alguns deles não resultantes de situações de guerra, mas da parte de pessoas assustadas com a situação provocada pela covid-19.
Questionado pelos jornalistas, Michael Ryan disse que até ser retirada a declaração de pandemia em relação ao novo coronavírus “há muito caminho pela frente”.
“Os países estão agora a tentar encontrar uma nova normalidade e vamos estar assim muito tempo”, avisou, acrescentando que mesmo que a OMS reduzisse o nível de alerta a verdade é que o risco continua elevado em todo o mundo.
“A nossa recomendação é que todos os países devem manter o nível de alarme mais alto, e que todas as medidas tomadas sejam graduais”, disse Tedros Ghebreyesus.
Michael Ryan avisou que em termos económicos seria pior sair do confinamento e ter de voltar a ele por falta de medidas de precaução. E alertou que é difícil prever até quando o vírus vai existir, acrescentando que se pode mesmo tornar endémico e nunca mais desaparecer, como aliás aconteceu com a sida.
E também questionado pelos jornalistas disse que não considera haver grandes riscos na abertura de fronteiras terrestres entre dois países que tenham o mesmo tipo de gestão da doença, avisando que “é mais complexo” abrir as fronteiras aéreas.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 292 mil mortos e infetou mais de 4,2 milhões de pessoas em 195 países e territórios.