O banco Millennium Bim, um dos principais de Moçambique, considera que as medidas financeiras prioritárias para mitigar os efeitos da covid-19 devem incidir na falta de liquidez, tal como algumas já tomadas pelas autoridades.
"O principal problema com que o Governo, as empresas e as famílias se deparam é falta de liquidez em resultado da quebra muito acentuada da atividade económica", refere a instituição em resposta a questões colocadas pela Lusa.
Como medidas prioritárias destaca "moratórias de obrigações fiscais e encargos sociais", ou seja, uma "redução temporária de taxas de impostos em atividades produtivas essenciais".
Depois, "moratórias de crédito, para colmatar 'gaps' [falhas] de tesouraria" - além de se introduzirem "planos alternativos de pagamento de dívidas financeiras, sem agravamento do custo de provisionamento e consumo de capital dos bancos comerciais".
Além do foco nestas medidas, parte das quais, refere, "já implementadas" pelo Banco de Moçambique e Governo, o Millennium Bim faz sugestões acerca das ajudas a procurar no exterior.
Ao nível do apoio internacional, para fazer face às necessidades orçamentais do Governo, a instituição recomenda "empréstimos concessionais e donativos" para que Moçambique "atravesse esta fase e possa retomar o ritmo de crescimento que se esperava para 2020 e anos seguintes".
A sugestão de empréstimos concessionais e donativos alinha-se com a que diversos parceiros têm feito, com um objetivo: que o país consiga liquidez, sem aumentar o peso da dívida de forma mais onerosa.
"A instabilidade em Cabo Delgado, o adiamento do investimento da ExxonMobil, o 'lockdown' [confinamento obrigatório] na África do Sul, a redução de preços das principais matérias-primas de exportação e as restrições de acesso aos mercados de financiamento aumentam significativamente os desafios macroeconómicos de Moçambique", considera o Millennium Bim.
O ambiente externo é "adverso" e há uma "elevada dívida pública resultante do efeito de desaceleração do PIB e valorização do dólar, bem como redução do fluxo de investimento privado e comércio externo".
O banco destaca pela positiva o apoio de 309 milhões de dólares (286 milhões de euros) já anunciado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Mas, perspetiva "uma depreciação do metical devido à redução das receitas de exportação e as reservas internacionais do banco central deverão sofrer algum desgaste", apontando para uma "elevada procura de importações (bens de consumo, medicamentos e combustíveis)".
Assim, o banco espera "uma ligeira aceleração da pressão inflacionária".
A instituição diz ocupar "uma posição de liquidez muitíssimo favorável e absolutamente extraordinária, com um rácio de capital que ronda os 45%", que permite "absorver eventuais impactos negativos que a pandemia possa ter na economia moçambicana" e no negócio bancário.
O Millennium Bim é liderado pelo grupo português BCP, com 66,69% do capital, enquanto o Estado moçambicano detém 17,12%.
O banco tem uma quota de mercado (com base nos ativos totais) de 25,9%, só superado pelo BCI (controlado pelos portugueses CGD e BPI) com 26,7%, de acordo com o mais recente 'ranking' do setor em Moçambique, publicado no final de 2019 pela consultora KPMG e pela Associação Moçambicana de Bancos com base em dados de 2018.
O país tem um total acumulado de 107 casos de infeção pelo novo coronavírus, sem mortes e com 35 recuperados.
Moçambique vive em estado de emergência desde 01 de abril e até final de maio, com espaços de diversão e lazer encerrados, proibição de todo o tipo de eventos e de aglomerações, recomendando-se à população que fique em casa, se não tiver motivos de trabalho ou outros essenciais para tratar.
Durante o mesmo período, há limitação de lotação nos transportes coletivos com obrigatoriedade do uso de máscaras, as escolas estão encerradas e a emissão de vistos para entrar no país está suspensa.