A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) alertou hoje que a «comunidade científica divide-se» em relação à «decisão política» de reabrir escolas, pelo que «se as coisas correrem mal o Governo terá de arcar com as consequências».
"A própria comunidade científica divide-se. Os peritos da área não estão convictos. A abertura no dia 18 de maio [segunda-feira] é uma decisão política, decisão política legítima, mas se as coisas correrem mal também será o Governo a arcar com as consequências", disse o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, numa conferência de imprensa no Porto.
Numa sessão que serviu para divulgar o Manual de Procedimentos, Condições e Exigências que a Fenprof pretende distribuir aos professores e publicar no seu ‘site', Mário Nogueira salvaguardou que é desejo da federação que "tudo corra bem", mas que "não pode não deixar de dizer que esta abertura é feita num quadro de pouca prudência".
"Não estão reunidas condições, do ponto de vista da saúde sanitária, para que as escolas e jardins de infância possam abrir. [As escolas] vão reabrir num quadro epidemiológico mais grave do que aquele que levou ao seu encerramento e num quadro epidemiológico que ainda está ativo e com risco", disse Mário Nogueira.
O responsável voltou a acusar o Ministério da Educação de se estar a "recusar a testar a comunidade escolar", considerando "importantíssimo" que fossem feitos testes ao novo coronavírus a toda a comunidade que vai regressar e não apenas a alguns setores, como é o caso das educadoras de infância e funcionários afetos ao pré-escolar.
"Todos os profissionais, funcionários e alunos devem fazer [teste]. Não fazer aos alunos é uma decisão incompleta", referiu o secretário-geral, apontando para "cerca de meio milhão de pessoas a regressar às escolas" entre crianças, adolescentes e adultos.
As contas da Fenprof são baseadas nos cerca de 160 mil alunos que regressam no secundário (11.º e 12.º anos), somando-se 200 mil professores e auxiliares deste grau de ensino, bem como "240 a 250 mil" no pré-escolar.
"É fácil estabelecer prioridades por concelhos tendo em conta o quadro epidemiológico", defendeu Mário Nogueira, dando outros exemplos de locais a testar prioritariamente, nomeadamente recorrendo ao exemplo de focos de infeção por covid-19 identificados na zona da Azambuja.
"Não é por acaso que os Açores, Madeira, a Universidade de Aveiro, Lisboa, Beira Interior, entre outras, e algumas Câmaras Municipais anunciaram [testes ao secundário]. O facto de não ter sido feita a testagem até ao regresso, não significa que não seja feita entretanto", disse Mário Nogueira
A Fenprof, que no início da semana entregou na Assembleia da República uma petição que já vai em 7.000 assinaturas para reclamar testes de despistagem à doença covid-19 para a comunidade escolar, participou na quinta-feira numa reunião no Infarmed.
Segundo descreveu hoje Mário Nogueira "a comunidade científica e especialistas não mostra convicção e tem dúvidas" sobre a abertura de escolas.
Da reunião, a Fenprof retirou como conclusões que o Infarmed continua a falar em "baixa imunidade, incidência diária e continua", bem como "risco permanente de ressurgimento", ou seja a possibilidade de surgir uma segunda vaga do vírus.
Já pareceres recolhidos pela federação de professores "mostram dúvidas", transmitiu Mário Nogueira, citando um parecer do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas que, disse o secretário-geral, "desaconselha a abertura de escolas", ainda que "não rejeite em absoluto".
De acordo com o sindicalista, a Sociedade Portuguesa de Epidemiologia "admite que a abertura se possa dar agora porque esta é uma situação muito desconhecida, mas faz um conjunto de recomendações que vão além das da Direção-Geral da Saúde (DGS)".
"Os testes não são para discriminar ninguém. São para proteger", disse Mário Nogueira, recordando que "os professores são um grupo muito envelhecido".
São cerca de 500 as escolas que vão reabrir, tendo o secretário-geral da Fenprof dito que falou "com mais de metade" e soube que "as Forças Armadas passaram por todas elas" e "foi dada formação aos funcionários", mas que "foram poucas as que foram higienizadas pelos militares" e a entrega de equipamentos de proteção individual (EPI) foi "díspar".
"Há escolas que dizem que só receberam EPI para uma semana. E outras para ano todo e até pode sobrar", referiu.
Mário Nogueira iniciou a conferência de impressa com o reparo de que falaria de máscara "embora isso nem sempre se veja por parte de todos", mas porque essa será também "é a forma que os professores vão ter de estar todo o dia na sala de aula".
Em Portugal, morreram 1.184 pessoas das 28.319 confirmadas como infetadas, e há 3.198 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.