Centenas de trabalhadores dos setores petrolífero e hoteleiro em Angola deverão perder os postos de trabalho, após a emergência por conta da covid-19, anunciaram hoje os gestores, justificando «dificuldades para pagar salários» e «manter as empresas funcionais».
Para os operadores, a suspensão de postos de trabalho e despedimentos "serão inevitáveis", porque os setores continuam a ser "gravemente afetados" pela pandemia, considerando urgente o apoio do Governo para este "quadro dramático".
Segundo o diretor dos recursos humanos da Socinger Angola, gestora de rede hoteleira, qualquer empresa "inevitavelmente" vai ter que proceder a suspensão de contratos de trabalho ou despedimentos.
"Porque é impossível ao Governo, que não tem por esta altura condições, para sustentar mesmo a nível da segurança social planos que sejam que muito superior daquilo que está preparado", afirmou hoje no final de um encontro com órgãos do Governo.
Em declarações aos jornalistas, o gestor deu conta que a nível da rede sob sua gestão perto de 50% dos trabalhadores deverão ser despedidos por conta das atuais taxas de ocupação inferior a 90%.
"Quando se tem uma taxa de ocupação num hotel que é 90% inferior a aquilo que era, ter o mesmo quadro de pessoal não faz sentido, não é possível até para poder manter os outros postos de trabalho, são reduções que permitem manter condições mínimas para os outros", argumentou.
O encontro que visou também buscar soluções para travar os despedimentos nesta fase de emergência devido ao novo coronavírus foi promovido, em Luanda, pelo Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social em parceria com outros departamentos ministeriais.
Por sua vez, Ana Pizarro, diretora dos recursos humanos da Sonamer Perfurações e Pride Foramer, prestadoras de serviços a empresas petrolíferas, anunciou que a sua empresa deve despedir perto de 400 trabalhadores após o estado de emergência.
"Os despedimentos infelizmente é uma situação extremamente sensível e dolorosa porque temos todo um aspeto profissional, estamos a perder técnicos muito bem preparados, principalmente para as empresas que estão cá há muitos anos", disse.
De acordo com a responsável, a firma "infelizmente" vai solicitar despedimentos coletivos de 380 trabalhadores "porque só tínhamos duas sondas, mas perdemos as duas, não temos sequer fundos de maneio para poder manter os trabalhadores".
Mas, observou, "garantimos que nada vai ser feito antes do levantamento do estado de emergência e mesmo assim até ao momento vamos continuar a pagar salários e tudo o que o trabalhador tem direito até ao fim, custe o que custar".
Mais de 3.728 pessoas em Angola viram extintos os seus postos de trabalho e suspensos contratos laborais, nos últimos dois meses, pelo facto das empresas apresentarem "graves problemas de tesouraria", agravada pela covid-19, disse hoje fonte oficial.
Angola conta já com 48 casos confirmados da covid-19, nomeadamente 32 casos ativos, catorze recuperados e dois óbitos.
O país cumpre a terceira prorrogação do estado do estado de emergência que estende até 25 de maio.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 302 mil mortos e infetou quase 4,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Mais de 1,5 mil milhões de doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.