O avançado Rabiola mostrou-se hoje empolgado por ter revivido “dias felizes” no futebol com o regresso do Vizela à II Liga, decretado através da conclusão antecipada do Campeonato de Portugal, devido à pandemia de covid-19.
“Não foi da maneira que queríamos, mas foi bom. Sabemos que o método encontrado é discutível, mas os organismos competentes tinham de se decidir pela nossa promoção, pois éramos líderes e o melhor ataque da nossa série. Fomos a equipa mais competente e não restam dúvidas da nossa qualidade”, analisou à agência Lusa o dianteiro.
Em 02 de maio, a Federação Portuguesa de Futebol indicou Vizela e Arouca, os dois clubes mais pontuados das quatro séries do Campeonato de Portugal, para a ascensão à II Liga, prescindindo dos ‘play-offs’ com outros seis emblemas, numa opção que gerou polémica e pôs um ponto final na ausência de três anos dos minhotos das ligas profissionais.
“Acima de tudo, fomos uma equipa extremamente regular e mantivemos o nível ao longo do campeonato. Tivemos uma fase difícil em janeiro, quando empatámos duas vezes [2-2 com o Merelinense e 3-3 frente ao Maria da Fonte] e perdemos em casa com o Marítimo B (3-5), mas conseguimos dar a volta com um espírito de equipa muito forte”, recordou.
Tiago Lopes, de 30 anos, conhecido nos relvados pelo “apelido de família” Rabiola, reforçou os vizelenses em meados de janeiro, proveniente do vizinho Felgueiras, e jogou três vezes até à pausa imposta pelo novo coronavírus, quando os pupilos de Álvaro Pacheco eram líderes isolados da Série A, com 60 pontos, oito acima do Fafe.
“Naquela altura já estávamos arredados de lutar pelos ‘play-offs’. O convite do Vizela surgiu num contexto diferente, que proporcionava a oportunidade de lutar pelo objetivo de chegarmos ao Jamor [para a discussão do título entre os dois promovidos à II Liga]. Foi bom para todas as partes, mas estou muito agradecido ao Felgueiras”, frisou.
Durante a época e meia registada a norte do rio Tâmega, o avançado concretizou 27 golos em 43 partidas pela formação da Série B do Campeonato de Portugal, patamar escolhido no verão de 2018 para revitalizar um percurso assolado em dose dupla por lesões graves no joelho esquerdo, que o levaram “seriamente” a pensar num abandono prematuro.
“Só com espírito de sacrifício e grande vontade ultrapassei esse período difícil, porque a lesão requer tempo, paciência, e em muitos momentos não notava evolução. Mas não desisti, os problemas estancaram e o Felgueiras deu-me a oportunidade de fazer golos e aquilo de que mais gosto. Estou de consciência tranquila com as boas épocas que fiz”, notou.
Rabiola esteve afastado dos relvados duas temporadas inteiras, que coincidiram com a passagem pelo primodivisionário Paços de Ferreira, precipitando um recuo de dois escalões para “recuperar o prazer de jogar”, expresso na forma como se despediu dos felgueirenses com o estatuto de melhor marcador da Série B do Campeonato de Portugal.
“Nunca estamos preparados e não consigo encontrar uma explicação para ter sofrido duas lesões prolongadas seguidas. Não posso dizer que seja azar, mas tive de conviver com elas. Um jogador com uma operação ao ligamento cruzado não fica igual aos outros colegas, mas com trabalho e dedicação consegue minimizar essas diferenças”, comparou.
Natural de Guimarães, o avançado despontou nas camadas jovens do Vitória e ajudou os minhotos a regressar ao convívio dos ‘grandes’ em 2006/07, sagrando-se campeão nacional pelo FC Porto duas épocas mais tarde, numa estadia efémera, traduzida num golo em seis aparições, e culminada com empréstimos ao Olhanense e ao Desportivo das Aves.
“As lesões prejudicaram-me um pouco e sei que podia ter decidido algumas coisas de outra maneira, mas sem arrependimentos. Naquele momento, tentei apanhar o comboio do FC Porto e não estava preparado para esse desafio. O futebol é um ciclo de escolhas. Não podemos mudar o passado e resta pensar em estar bem no futuro”, indicou.
Apontado como uma promessa do futebol português, até pelo passado nas seleções jovens, Rabiola passou a alternar entre os dois escalões profissionais no início da década, sobressaindo a segunda viagem até à Vila das Aves, somada às experiências modestas no Feirense, Sporting de Braga, Penafiel ou Académica, tendo totalizado 90 jogos na elite.
“Não quer dizer que não encontremos qualidade, mas nos campeonatos amadores a mentalidade dos jogadores faz a diferença. Estive sempre habituado a uma mentalidade vencedora e às vezes não é fácil encontrar isso em todas as equipas. Voltar à I Liga? Não penso nisso sequer. Claro que tinha essa aspiração, mas o futuro dirá”, admitiu.
Com contrato até junho, o antigo dianteiro dos polacos do Piast Gliwice desvinculou-se no sábado do Vizela, o 12.º emblema representado em 14 anos, que “está bem estruturado e recheado de pessoas com muita qualidade” para atacar a II Liga, declarando intenções em “sentir-se útil e bem” numa profissão que nem sempre é o “mar de rosas” que aparenta.
“As pessoas não têm noção da vida extremamente difícil de um futebolista, que tem de abdicar de muitas coisas, cumprir horários e ser rigoroso na alimentação. Essas lições ajudam-nos a levar competência para a vida pessoal. Estou a preparar o futuro e a tirar o primeiro nível de treinador, o que não quer dizer que pense em deixar de jogar”, afiançou.