A Associação das Indústrias de Caju (Aicaju) de Moçambique estima que o processamento de castanha perca este ano cerca de um terço da produção relativamente a 2019, anunciou hoje em comunicado.
"A Aicaju estima que o processamento de castanha este ano não chegue às 35.000 toneladas quando comparado com as cerca de 52.000 toneladas processadas no ano passado", lê-se no documento.
O país tem menos de dez fábricas de processamento-primário a operar, sendo que algumas delas irão suspender o processamento por falta da matéria-prima.
"Esta quebra reflete o impacto de uma tendência de comercialização negativa dos últimos anos, uma vez que a indústria nacional tem vindo a processar cada vez menos castanha desde 2017", refere a Aicaju.
Em 2018 foram processadas, em Moçambique, cerca 60.000 toneladas de castanha, nota.
As quebras do processamento da castanha de caju "justificam-se pelo contexto, particularmente adverso, em que os industriais nacionais estão a operar".
O cenário descrito é o de uma "crescente concorrência agressiva e protegida por parte de intervenientes internacionais como a Índia e Vietname e pela falta de atualização das medidas de resposta domésticas".
A Aicaju refere que os processadores asiáticos podem comprar matéria-prima em Moçambique a preços "desleais", "desvirtuando o mercado com impacto negativo na indústria nacional, na cadeia de valor de transformação e por último, nos cofres do Estado".
A atual campanha de caju é também afetada pela pandemia de covid-19, "que tem estado a resultar numa quebra significativa no setor": o preço da castanha do caju caiu mais de 15% desde o início da crise e 25% quando comparada com o preço de 2019.
A associação considera fundamental "a promoção de mecanismos de capacitação e apoio aos produtores para o desenvolvimento dos cajueiros", sob pena de a produção sofrer igualmente pela mitigação da espécie.
A Aicaju representa dez fábricas e sete unidades industriais de pequena e média dimensão.
Estima-se que a cultura do caju alimente cerca de 1,4 milhões de famílias.
A castanha de caju foi o 11.º produto de exportação de Moçambique em termos de receitas em 2018, com um valor de 14,8 milhões de dólares (13,6 milhões de euros), segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Ainda assim, apesar do cenário, a Aicaju diz-se "confiante no trabalho que o Governo está a desenvolver e acredita que, através da concertação entre Estado, setor privado e os produtores, seja possível, em tempo útil, implementar medidas de defesa do setor, que permitam uma campanha de 2020 justa para todos os intervenientes", concluiu.