O futebolista português Renato Santos resistiu na terça-feira ao despedimento coletivo de diversos funcionários do Málaga, da II Liga espanhola, assente nas dificuldades financeiras agravadas pela pandemia de covid-19.
“Não sei quantas pessoas estarão envolvidas, mas infelizmente aconteceu. Até à data todos os jogadores foram salvaguardados e a pandemia não nos afetou muito. Temos possibilidades e não é por não recebermos um mês que deixamos de ter comida na mesa. Só que esta paragem veio condicionar muitas famílias que têm um trabalho normal e é complicado lidar com isso”, admitiu à agência Lusa o avançado natural de Estarreja.
Os ‘boquerones’ foram o primeiro emblema espanhol a solicitar o Expediente de Regulamentação de Emprego (ERE) “para a extinção e/ou suspensão de contratos de trabalho”, numa “restruturação” assumida em comunicado no sítio oficial na Internet e enquadrada no “pacote de medidas necessárias para garantir a sustentabilidade” do clube andaluz.
“Por vezes, a direção informa-nos das situações, mas como este tema não está diretamente relacionado connosco provavelmente acharam que não teriam de o fazer. O Málaga tem bastantes funcionários, em número equivalente ou superior a algumas equipas da I Liga, e pode ter havido um reajuste derivado a este momento”, explicou.
Os dirigentes já tinham abordado os capitães para aplicarem cortes salariais devido à paragem competitiva provocada pelo novo coronavírus, reduzindo “20% caso o futebol não voltasse e 10% se regressasse”, mas as negociações com o plantel do Málaga estagnaram e os vencimentos continuaram intactos desde março.
“Numa fase inicial, foi sugerido um corte a nível coletivo e depois ainda se falou numa resolução individual entre clube e jogadores, mas nada aconteceu. O clube conseguiu solucionar de outra forma e os jogadores não foram prejudicados nesse sentido até agora, o que não quer dizer que não venham a ser daqui em diante”, assegurou.
Renato Santos, de 28 anos, assinou pelo 15.º classificado do escalão secundário em julho de 2018, logo após o Málaga ter abandonado a elite espanhola, contexto que intensificou os problemas financeiros, levando as autoridades judiciais a afastar em 20 de fevereiro o líder Abdullah bin Nasser Al Thani e os três filhos conselheiros da administração.
“Fala-se em investimentos grandes e gestões que supostamente terão sido mal feitas. Isso não se notava enquanto o clube esteve 10 anos seguidos na Liga, mas o Málaga foi apanhado desprevenido quando desceu e sentiu a mudança grande e o reajuste de orçamento. Não termos conseguido a subida na época passada também pesou”, apontou.
Depois da terceira posição na fase regular, atrás dos promovidos Osasuna e Granada, a derrota aos pés do Deportivo nos ‘play-offs’ de subida veio “abalar o orçamento” dos andaluzes para 2019/20 e precipitar uma campanha de “altos e baixos”, com os mesmos 38 pontos de Las Palmas e Numancia, três acima da zona de descida.
“Houve coisas mal feitas na gestão do clube e na inscrição de jogadores e toda essa situação interna afetou-nos um pouco dentro de campo. Notou-se que os jogadores não estavam a dar aquilo que podiam e tivemos momentos bons e alguns mesmo maus. Felizmente estávamos a estabilizar, até vir a pandemia”, notou Renato Santos.
Sem data para o regresso do campeonato, o Málaga continua sob administração judicial de José María Muñoz e já regressou aos treinos para “garantir a manutenção da melhor maneira”, horizonte desarticulado com o ideário do membro da família reinante do Qatar, que conduziu os ‘boquerones’ aos quartos de final da Liga dos Campeões em 2012/13.
“Quem comanda o clube está a arrumar a casa. É uma pena, porque não temos sofrido a nível de salários e esta instituição podia e deveria estar na Liga. Apresenta estruturas muito boas, condições de trabalho espetaculares e uma média de 18 mil adeptos em casa. Tudo isso pesa junto das pessoas de cá, que vivem realmente o clube”, constatou.
Acionista maioritário desde 2010, Al Thani adquiriu o Málaga por 30 milhões de euros e apostou logo no treinador Jesualdo Ferreira, atraindo para o Estádio La Rosaleda nomes como Santi Cazorla ou Ruud Van Nistelrooy, que conviveram com os internacionais lusos Antunes, Duda e Eliseu, num investimento mitigado após a estreia na Liga dos Campeões.