Os conflitos armados provocaram mais de 660 mil novos deslocados em todo o mundo apesar dos apelos da ONU para um cessar-fogo geral por causa da pandemia de covid-19, alerta um relatório do Conselho Norueguês para os Refugiados (CNR).
No dia 23 de março, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lançou um apelo para um "cessar-fogo imediato em todo o mundo" para salvaguardar as populações civis mais vulneráveis à pandemia nos países que enfrentam conflitos armados.
O apelo foi feito no quadro da pandemia de SARS-Cov-2 (covid-19) que, segundo a ONU, agrava a situação das populações atingidas pela guerra.
Desde março e até ao dia 15 de maio pelo menos 661 mil pessoas foram obrigadas a retirar-se dos locais onde residiam em 19 países que enfrentam conflitos armados, de acordo com o relatório do CNR.
O documento publicado hoje frisa que os deslocados de guerra vivem em condições sanitárias deploráveis estando cada vez mais expostos à pandemia do novo coronavírus.
A República Democrática do Congo é o país mais afetado, onde os confrontos entre grupos armados e forças governamentais provocaram uma onda de 482 mil novos deslocados internos, no período indicado, de acordo com o documento da organização não-governamental norueguesa.
O país africano, atingido por vários conflitos e crises sanitárias ao longo das últimas décadas, contava já com 1,7 milhões de deslocados internos.
Segundo o relatório, mesmo nos países onde as partes em confronto expressaram apoio ao apelo de cessar-fogo os combates continuaram, nomeadamente no Iémen, em guerra desde 2014 e que vive uma grave crise humanitária.
O Chade e o Níger são outros países particularmente afetados pela guerra e que conhecem uma recente vaga de deslocados internos.
No total, contabilizaram-se 10 mil novos deslocados, entre 23 de março e o dia 15 de maio, no Afeganistão, República Centro Africana, Síria, Somália e Birmânia.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas, paralisado pelo conflito político e diplomático entre os Estados Unidos e a República Popular da China não concordou com a possibilidade de discussão de uma resolução sobre um cessar-fogo "a nível global" capaz de facilitar a propagação da pandemia.
"Enquanto as pessoas são obrigadas a fugir ou são mortas, os membros do poderoso Conselho de Segurança da ONU comportam-se como se fossem crianças", lamentou o secretário-geral do CNR, Jan Egeland, apelando a uma nova postura por parte do organismo.