Tendas instaladas nos bairros da cidade da Praia estão a permitir a realização de testes rápidos em massa à presença do novo coronavírus na comunidade, para alívio da população, confrontada com o foco da pandemia na capital cabo-verdiana.
“Foi mais para ver como estou, se está tudo bem ou não”, contou à agência Lusa Manuel Lopes, condutor profissional, de 63 anos, junto à tenda montada pela Cruz Vermelha de Cabo Verde no bairro da Achadinha, centro da Praia.
Manuel Lopes fez um dos cerca de 150 testes rápidos disponibilizados gratuitamente hoje naquela tenda, para procura de anticorpos para o novo coronavírus numa pequena amostra de sangue. O objetivo é comprovar se já teve contacto com a doença, criando imunidade, numa altura em que a covid-19 foi diagnosticada a cerca de 300 pessoas de 25 bairros da Praia.
“Não conheci, nem contactei com ninguém com o vírus, mas sempre foi melhor prevenir e saber”, acrescentou, depois do resultado negativo do teste. O regresso a casa faz-se, ainda assim, com a mesma preocupação dos últimos dois meses, em que se resguardou em casa: “Receios, claro. Isto ainda não acabou”.
Organizado pelas autoridades de saúde e proteção civil, cabe à Cruz Vermelha de Cabo Verde, com apoio da polícia e militares, realizar estes testes, alternadamente, pelos bairros da Praia.
“Estamos a fazer entre 100 a 150 testes por dia em cada bairro, dois ou três bairros por dia. É um teste rápido, 10 a 15 minutos”, explicou à Lusa Evandro Lopes, do conselho local da Praia da Cruz Vermelha de Cabo Verde.
O teste é gratuito para a população, sendo o acesso prioritário aos que sabem que tiveram contacto com pessoas infetadas. Ainda assim, todos acabam por fazer a picada do dedo para colher sangue e fazer o teste.
“Estamos a ter muita adesão”, garantiu Evandro Lopes.
De acordo com dados de sexta-feira da Direção Nacional de Saúde, Cabo Verde já fez cerca de 2.200 testes rápidos de pesquisa de anticorpos do novo coronavírus este mês, na Praia.
“Devemos dizer que os dados são muito encorajadores. Não temos encontrado muitos positivos e esses testes têm servido também para fazer uma triagem de todos os casos positivos, que serão reconfirmados com teste PCR (de infeção do novo coronavírus)”, adiantou o diretor nacional de Saúde, Artur Correia.
Ricardo Rodrigues, 39 anos, professor de Geografia na escola secundária do Tarrafal, resolveu fazer o teste hoje de manhã, na Achadinha, por precaução, antes de viajar.
“Estou aqui na Praia há dois dias e antes de regressar ao Tarrafal [no extremo norte da ilha] quis fazer este teste, para saber como estou. Estivemos este tempo todo em quarentena e não conheci ninguém com covid-19, mas nunca se sabe”, atira.
Num teste do qual todos saem satisfeitos – ou sem contacto com a doença ou com imunidade já adquirida – Francisco Mendonça, 67 anos, reformado, saiu de casa pela manhã para garantir uma vaga para o teste.
“Aproveitar a oportunidade para ter mais confiança daqui para a frente. Acho que não contactei com ninguém doente, mas não sei”, afirma à Lusa, na fila para entrar na tenda, com todos a cumprir o distanciamento obrigatório de dois metros.
Nos últimos dois meses – a ilha de Santiago permanece em estado de emergência desde 29 de março -, Francisco e a família ficaram em casa, seguindo as recomendações das autoridades de saúde, mas falar do futuro é ainda sem certezas: “Se Deus quiser, vai correr bem”.
Cabo Verde tem um acumulado de 371 casos de covid-19 desde 19 de março, três óbitos e 142 doentes recuperados, mas apenas a ilha de Santiago apresenta ainda casos ativos da doença, num total de 236.
Todos os 56 casos diagnosticados na ilha da Boa Vista já foram dados como recuperados, o mesmo acontecendo com os três casos em São Vicente.
A ilha de Santiago, a única do arquipélago em estado de emergência, totaliza 312 casos (84% do total do país) diagnosticados da doença, dos quais 304 na Praia, o principal foco da pandemia no arquipélago.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 338 mil mortos e infetou mais de 5,2 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Mais de 1,9 milhões de doentes foram considerados curados.