Adrien Silva, internacional português campeão da Europa em 2016 revelou sentir alguma «mágoa» por não ter sido campeão no Sporting e fala na «recompensa» de vencer o Euro 2016
O jogador contratualmente ligado ao Leicester, que em 2019-20 esteve cedido ao Mónaco, esteve à conversa, em direto, no Facebook da Eleven Sports e falou sobre o final antecipado da Ligue 1 recordando os momentos marcantes da sua carreira, quer na seleção quer em clubes como o Sporting.
A pandemia do Covid-19 levou a que o último jogo do Mónaco na Ligue 1 se disputasse a 7 de março. Adrien, que está em Portugal a “aproveitar para estar com a família, pois o tempo para isso por norma é escasso”, diz não ter tido “problemas em aceitar a decisão de terminar antecipadamente a Liga. Claro que, desportivamente, é sempre difícil, pois qualquer profissional quer sempre competir. Mas as razões de saúde são muito mais importantes”, salientou o médio de 31 anos, que em 2019-20 realizou 25 partidas pelo conjunto que terminou a Ligue 1 na 9.ª posição.
Adrien, que assegurou que “o gosto em treinar, cuidar de mim e da minha saúde leva a que seja mais fácil tentar manter a forma neste longo período sem jogar”, falou sobre a vida no Mónaco: “É um lugar especial, que choca, e para quem não está preparado pode ser perigoso. Há sempre competição para ver quem tem o maior barco. É completamente diferente do que já vivi em relação a paixão pelo futebol, pois os jogadores passam na rua sem serem abordados. Desportivas como o Djokovic ou o Lewis Hamilton passam completamente despercebidos”, comentou o jogador.
Com 26 internacionalizações pela seleção portuguesa, Adrien Silva foi peça-chave no triunfo de Portugal no Euro’2016. Titular na final contra a França, o seu país de nascimento, o centrocampista falou sobre a emoção de vencer a competição num encontro muito especial para si: “Foi uma mistura de sentimentos. Foi o reviver de uma história pessoal, por ter vivido em França, por ter familiares que vivem em França e por, com 11 anos, ter tido dificuldades para me adaptar a Portugal. Fiz muitos esforços para colher, mais tarde, frutos disso, e foi a melhor recompensa que poderia pedir”, explicou Adrien, que contou uma história relacionada com o seu pai. “Num dos primeiros amigáveis com o míster Fernando Santos, em 2014, jogámos contra a França, no mesmo estádio onde se disputaria a final em 2016. Estava a minha família toda na bancada, mas eu não saí do banco o jogo todo. Fiquei com uma grande azia, mas o meu pai disse-me que não me preocupasse, pois seria titular na final do Euro’2016 e Portugal venceria o torneio”.
Campeão da Europa, Adrien nunca conseguiu vencer a I Liga com o Sporting, conjunto pelo qual realizou 241 jogos e marcou 39 golos entre 2007 e 2017. O antigo capitão dos verde e brancos, que assume que “o ponto mais alto de rendimento foi com o míster Jorge Jesus”, assume a “mágoa em não ter sido campeão pelo Sporting. Já consegui acalmar e ultrapassar essa mágoa, mas foi difícil, sobretudo por ser capitão e líder. Foi por muito pouco, mas às vezes há coisas que se decidem por milímetros e foi isso que sucedeu”. Questionado a comentar o jejum de títulos de campeão nacional que dura desde 2001-02 no Sporting, Adrien Silva deu a sua opinião sobre o que não tem corrido bem no clube. “Falta estabilidade ao Sporting para ser campeão. Nós não fomos campeões por centímetros e, infelizmente, voltámos à estaca zero com tudo o que sucedeu no clube. Agora irá voltar a demorar tempo. É preciso reacender a chama da Academia, mas não se forma uma equipa só com jogadores da formação”.
Tanto em Alvalade como na seleção campeão da Europa, Adrien Silva partilhou balneário com vários colegas de longa data. O médio recordou a dupla com William Carvalho: “Criou-se uma empatia muito grande com ele. Era o meu parceiro no meio-campo e desde o míster Leonardo Jardim que criámos uma grande ligação. Jogávamos de olhos fechados”, recordou, deixando ainda rasgados elogios a João Mário. “Eu e o William, estando mais atrás no meio-campo, tínhamos gosto em vê-lo jogar. Quando tínhamos algum problema, dávamos-lhe a bola e ele resolvia. É um jogador mágico”, salientou Adrien, que ainda recordou a sua ligação a Rui Patrício e Cédric Soares: “Conheço o Rui desde os 12 anos. Desde a formação até aos seniores, partilhámos o mesmo balneário e estávamos quase 24 horas por dia juntos. Já com o Cédric, fomos os dois emprestados à Académica, fizemos um grande ano e vencemos a Taça. Passámos por dificuldades, mas temos uma grande amizade”.
O internacional português falou também sobre o capitão da seleção nacional. “Dos jogadores com quem joguei, o Cristiano Ronaldo foi o que marcou mais. É um bicho. Independentemente daquilo em que entra, é sempre para ganhar e será assim até acabar a carreira”, salientou Adrien, que falou sobre a experiência na Premier League, ao serviço do Leiceister: “O ambiente em Inglaterra é espetacular. Mas depois há outras coisas que deixam a desejar para o nível que há na Premier League, como a organização dos clubes... Mas era o sítio onde queria competir desde pequeno e tenho muito orgulho de ter jogado lá”, reconheceu o médio.
Adrien Silva abordou também a importância da saúde mental para um jogador: “Há três anos que trabalho com um mental coach, que é alguém que serve para encontrar soluções na nossa vida profissional e pessoal. É muito interessante ver como podemos evoluir e aprender a lidar com as situações. Aprendemos técnicas para lidar com stress ou carga emocional. Tem-me ajudado bastante”, revelou o jogador, que falou sobre a pressão a que os jogadores estão sujeitos. “Já joguei com futebolistas que, pela sua personalidade, parecem estar sempre a jogar no bairro. A pressão passa-lhes ao lado. Para mim, não foi assim que aconteceu. Foi, realmente, difícil ouvir certas coisas e tirá-las da minha cabeça para não criar peso no meu rendimento”, comentou.
Finalmente, Adrien Silva aproveitou para deixar uma mensagem para o povo português: “Temos de pensar positivo, que as coisas nunca ficam no mesmo estado. A vida tem muitos altos e baixos e estou certo de que o povo português vai sair em grande deste momento”.
A entrevista completa pode ser vista aqui.