O secretário-geral do Partido Democrático (PD) e deputado António da Conceição foi hoje a única voz no Parlamento Nacional timorense a mostrar-se contra a renovação do estado de emergência devido à covid-19.
“Não precisamos da renovação do estado de emergência que está a matar a economia”, afirmou António da Conceição, um dos cinco deputados do PD no parlamento, durante o debate do pedido do Presidente timorense, Francisco Guterres Lu-Olo, de prolongamento do estado de emergência por mais 30 dias.
Conceição lembrou que os dois meses de estado de emergência, que hoje terminam, tiveram “grandes consequências no Estado e no povo, agravando as condições da economia timorense e deixando o povo em agonia”.
“A aplicação do estado de emergência deixou muitos sem emprego e rendimento, com obras paradas, setor privado sem atividades e, por isso, a extensão tem que ter objetivo muito forte”, afirmou.
António da Conceição disse à Lusa que vai votar contra, uma vez que o PD deu “liberdade de voto” aos cinco deputados da bancada.
As restantes bancadas presentes no parlamento, a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), o Partido Libertação Popular (PLP) e o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), defenderam a extensão do estado de emergência.
Um deputado do KHUNTO Antonio Tilman defendeu a abertura de uma vez por semana das fronteiras e da autorização a três voos semanais para o país.
O debate começou com muitos lugares vazios no plenário, com a ausência dos 21 deputados do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) e dos dois deputados, um cada, do Partido de Unidade Desenvolvimento Democrático (PUDD), da Frente Mudança (FM) e da União Democrática Timor (UDT).
O chefe da bancada do CNRT, Duarte Nunes, disse à Lusa que o partido continua a considerar ilegal a eleição do presidente do parlamento, Aniceto Guterres Lopes, e, por isso, a força política tem decidido não participar em ações no plenário.
Na intervenção, António da Conceição referiu-se igualmente à situação política no país e em particular à tensão que se viveu no Parlamento Nacional na semana passada, simbolicamente ainda representada, nesta sessão, pela mesa da presidência destruída.
Uma “degradação moral e ética” no ambiente político do país que “ficou gravada e fotografada aqui no parlamento, com a mesa de honra da presidência destruída, resultado da incapacidade de diálogo e da intolerância”, disse.
Neste sentido, Conceição defendeu que Lu-Olo devia promover um “retiro com os líderes políticos e nacionais para resolver a crise política no país”.
O deputado considerou que a situação da covid-19 em Timor-Leste “não se agravou” mas que, em contrapartida, “se agravou o vírus político” e a situação de muitos habitantes devido a desastres naturais.
Assim, e se “o vírus corona não é grande ameaça”, apesar de se dever manter a “vigilância e o controlo”, não se justifica a renovação do estado de emergência, considerou.
Ao mesmo tempo, é essencial que o Governo “adote uma forte política para revitalizar e normalizar a economia do país”, com apoio ao setor económico privado, a cooperativas e aos produtores, disse.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 346 mil mortos e infetou mais de 5,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), paralisando setores inteiros da economia mundial, num “grande confinamento” que vários países já começaram a aliviar face à diminuição dos novos contágios.