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Execuções extrajudiciais e detenções em massa na Etiópia governada por um Nobel

A Amnistia Internacional (AI) acusou hoje as forças de segurança da Etiópia de execuções extrajudiciais e detenções em massa, apesar de o primeiro-ministro reformista do país ser um galardoado com o Prémio Nobel da Paz.

Execuções extrajudiciais e detenções em massa na Etiópia governada por um Nobel
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Num relatório publicado hoje, a organização de defesa dos direitos humanos diz que as forças de segurança mataram pelo menos 25 pessoas em 2019 nas zonas leste de Guji e oeste de Guji, na região de Oromia, por suspeitas de apoio a um grupo rebelde, o Exército de Libertação Oromo, e um grupo de oposição outrora exilado.

Segundo a organização dos direitos humanos, pelo menos 10.000 pessoas poderão ter sido detidas entre janeiro e setembro.

O Governo do primeiro-ministro, Abiy Ahmed, a quem foi atribuído o Prémio Nobel da Paz em dezembro por reformas políticas radicais e pelo restabelecimento dos laços com a vizinha Eritreia, após duas décadas de hostilidades, não comentou o relatório, que surge numa altura em que se teme o regresso de algumas medidas repressivas.

As tensões entre alguns dos mais de 80 grupos étnicos da Etiópia aumentaram, juntamente com alguns apelos a uma maior autonomia, e o novo relatório documenta também algumas das violências intercomunitárias nas regiões de Oromia e Amhara, as mais populosas do país.

Segundo a organização, esta violência é uma preocupação, uma vez que o país enfrenta eleições nacionais cruciais, agora adiadas devido à pandemia de covid-19, que constituirão uma medida de apoio às mudanças do país desde que Abiy Ahmed tomou posse, no início de 2018.

Sem data eleitoral definida e com mandatos para o executivo e para as legislaturas regional e federal a terminar em outubro, os partidos políticos estão em desacordo quanto às estratégias para evitar uma potencial crise constitucional.

O novo relatório culpa uma série de intervenientes pela violência em 2019, incluindo forças especiais da polícia regional, funcionários da administração local e grupos armados de jovens e vigilantes.

“A investigação identificou uma operação de segurança nas regiões de Amhara e Oromia, caracterizada por uma impunidade que é difícil de imaginar na Etiópia atual”, adiantou a AI.

Antigos detidos denunciaram vários casos de prisão arbitrária e detenção de familiares, incluindo crianças, quando os agentes de segurança não conseguiram encontrar a pessoa que procuravam prender.

Na região de Oromia, o Governo lançou em janeiro de 2019 uma ofensiva policial contra o Exército de Libertação de Oromo, que tinha encenado ataques armados na região.

O grupo armado separou-se da ala política da outrora exilada Frente de Libertação Oromo que, no âmbito das reformas da Etiópia, regressou ao país para prosseguir uma agenda política pacífica.

Na região de Amhara, “pelo menos 150 pessoas foram mortas em conflitos intercomunitários, nos quais as forças de segurança foram cúmplices”, lê-se no relatório, referindo que pelo menos 58 pessoas de etnia qimant, que reclamam mais autonomia, foram mortas em 24 horas, em janeiro de 2019.

“Os ataques e contra-ataques levaram à deslocação interna de milhares de pessoas de etnia amhara e qimant”.

O chefe adjunto do Gabinete Regional de Paz e Segurança de Amhara disse à AI que poderiam ter ocorrido mais mortes se as forças de segurança não tivessem sido destacadas e rejeitou a alegação de que as forças de segurança eram cúmplices em alguns dos ataques.

Vários outros gabinetes governamentais não responderam ao relatório, afirmou a Amnistia Internacional.

Dois grupos da oposição reagiram ao novo documento com outras acusações.

O relatório abrange o período até final de 2019. No entanto, a situação na região de Oromia agravou-se progressivamente em 2020, com um aumento substancial de detenções em massa, execuções extrajudiciais e destruição de bens em províncias que não tinham sido anteriormente afetadas”, segundo uma declaração conjunta da Frente de Libertação Oromo e do Congresso Federalista Oromo.

“O relatório é mais uma prova de que a nova administração não se afastou da prática de asfixiar energicamente a dissidência”, disse.

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