O porta-voz dos pescadores artesanais de Cacheu, no norte da Guiné-Bissau, avisou hoje que a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus pode estar a favorecer a pesca ilegal nas águas do rio Cacheu.
De acordo com Djatá, há mais de 20 anos, de cada vez que há um problema político no país, as águas do rio Cacheu, uma das principais zonas de pesca na Guiné-Bissau, "são invadidas por pescadores industriais ilegais".
Desta feita, notou, a situação poderá ter a ver com a crise provocada pela pandemia da covid-19, que levou as autoridades a decretarem o estado de emergência sanitária, obrigando ao encerramento de vários serviços públicos e à limitação da circulação de pessoas.
"Pensamos que a situação se agravou com esta doença. Há muitos navios a pescar de forma ilegal" nas águas do rio Cacheu, disse o representante dos pescadores artesanais.
A lei geral de pesca da Guiné-Bissau admite a pesca artesanal em águas interiores e no mar territorial do país e toda a atividade piscatória realizada dentro das 12 milhas a partir da costa e proíbe a mesma atividade aos operadores da pesca industrial naquela zona.
Armando Djatá afirmou, no entanto, que a associação de pescadores artesanais do rio Cacheu, em várias ocasiões, deu conta das ilegalidades que têm sido cometidas por pescadores industriais, mas, comentou, as autoridades ainda não tomaram qualquer diligência.
Desde o início deste mês, por determinação da lei da pesca guineense, é proibida a faina no rio Cacheu, em observância do período de repouso biológico das espécies durante três meses.
Para garantir o sustento, os pescadores artesanais navegam, com canoas equipados com motores fora do bordo, para outras zonas, em direção a Varela, por exemplo, mas Armando Djatá disse ser "um espetáculo a quantidade de navios industriais" naquelas paragens, o que acredita ser ilegal.
O dirigente da associação de pescadores artesanais relata ainda "os abusos dos navios industriais" com que se deparam de cada vez que se fazem ao rio Cacheu, nomeadamente abalroamentos.
"São malvados. Entram em zonas proibidas por lei e ainda atacam as nossas canoas, sem parar para ver se fazem vítimas ou não", observou Armando Djatá.
Como técnica para evitar os abalroamentos, os pescadores artesanais do rio Cacheu têm estado a usar garrafas com gasolina que ateiam fogo logo que vislumbrem um navio de pesca industrial vindo em direção às canoas.
"Isso tem resultado, pois ficam com medo de incendiarem o seu navio", declarou Djatá.
A par da agricultura, a pesca é a principal atividade geradora de renda da grande maioria da população rural guineense e também produto de exportação do país.
A Guiné-Bissau é o país africano lusófono com mais casos de infeção pelo novo coronavírus, registando 1.339 casos e oito mortos.