O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), ONG moçambicana, acusou hoje o Governo de falta de "estratégia clara para tirar milhões de jovens do desemprego", assinalando que o executivo não aponta as metas que reviu devido à covid-19.
Numa análise ao Plano de Ação de Implementação da Política da Juventude-2020 (PAIPJ-2020), aquela organização não-governamental (ONG) critica o facto de o executivo referir no documento que reviu em baixa metas no emprego, mas sem apontar os números e objetivos alterados.
"Seria interessante saber quantos empregos para jovens estavam inicialmente previstos no PAIPJ-2020 e quantos são esperados até ao fim do ano", diz o CDD.
A organização recorda o polémico anúncio do Governo moçambicano em abril de que foram criados 48.323 empregos nos primeiros 100 dias de governação do executivo de Filipe Nyusi, que tomou posse para o segundo mandato em janeiro.
Quando o anúncio foi feito, o país já estava em estado de emergência e já registava casos de covid-19 há semanas, lembra.
"O anúncio da revisão em baixa das medidas do PAIPJ-2020 revela que o Governo faltou à verdade quando em abril afirmou ter criado, em apenas 100 dias, 48.323 empregos", lê-se na análise.
As limitações do Orçamento do Estado e a retração do investimento privado interno e internacional, devido ao impacto da covid-19, tornam irrealista a geração daquele número de postos de trabalho em 100 dias, considera o CDD.
A ONG qualifica mesmo como "falácia" o compromisso do Governo de criar três milhões de empregos nos próximos cinco anos.
Esse número, prossegue, implicaria que fossem gerados 600 mil postos de trabalho por ano.
O CDD diz ser contraditório que a Secretaria de Estado da Juventude e Desporto assuma que serão "registados" 181.340 empregos "nos diversos setores de atividade económica e social", depois de o executivo ter prometido a criação de 600 mil postos de trabalho.
Por outro lado, continua, de um universo de cerca 180 mil jovens que vão receber formação técnico-profissional, 'kits' para o autoemprego e financiamento, apenas 20.000 vai beneficiar de uma intervenção direta da Secretaria de Estado da Juventude e Desporto.
"Isto mostra que um número insignificante de jovens é que irá beneficiar das ações do Governo na componente de emprego, numa altura em que milhões estão no desemprego ou no setor informal", diz a análise.
O CDD nota ainda que o desempenho da economia moçambicana não tem acompanhado o crescimento exponencial da população e do número de jovens que anualmente entram no mercado de emprego.
Citando dados das Nações Unidas, aquela organização aponta que cerca de 400 mil jovens procuram anualmente o primeiro emprego em Moçambique.