O Sindicato Nacional de Médicos de Angola (Sinmea) reiterou hoje, em Luanda, que não está contra a contratação de médicos cubanos, mas contra a situação dos mais de 2.500 profissionais que se encontram no desemprego.
Segundo a vice-presidente do Sinmea, Domingas Matos, a contratação dos médicos cubanos foi justificada pelo Governo com a situação da pandemia de covid-19 e os problemas que os hospitais enfrentam.
"O espanto é que, segundo relatos dos colegas que estão nos locais onde os médicos foram alocados, dizem que eles não estão a trabalhar para aquilo que vieram fazer. Muitos estão a fazer trabalhos administrativos e outros estão a se adaptar", disse.
Domingas Matos frisou que o Governo justificou que os médicos expatriados foram recrutados para dar formação aos quadros nacionais.
"Como é possível que quem veio formar a esta altura estar a adaptar-se, não estaria já a formar ao invés de estar a ser formado, há mesmo necessidade de trazermos médicos para nos formar, quando na verdade acabam adquirindo experiência cá?”, questionou.
"Queremos médicos nos hospitais, queremos um negócio, o que queremos?", prosseguiu, questionando também a necessidade de "gastar milhões importando quem vem fazer trabalhos administrativos".
A sindicalista reclamou que o Governo consegue pagar a médicos estrangeiros, mas aos nacionais, muitos deles reprovados no concurso público, apela ao voluntariado.
"Então servem para trabalhar, isso já deixaram bem claro, mas só como voluntários, não servem para receber um ordenado pelo trabalho que fazem", frisou.
Segundo a responsável, apelam à "sensibilidade, patriotismo, amor e juramento dos médicos, e tem sido isso que os médicos têm feito.
"Sim, fazemos um juramento e temos estado a cumprir, patriotismo existe, até ao momento o médico angolano vive disso - patriotismo, amor ao próximo, altruísmo e nada mais que isso. Pergunto-me, vamos viver disso até quando?", reiterou.
Domingas Matos referiu que a desculpa da crise económica não colhe, como ficou agora aprovado com a pandemia de covid-19.
"Olhamos para esta situação do novo coronavírus, apareceu dinheiro para muita coisa, para levantar e equipar hospitais em menos de um mês, dinheiro para a contratação de profissionais de fora, dinheiro para compra até de condomínios sobrefaturados, afinal, o dinheiro existe, só falta mesmo é vontade", salientou.
Por sua vez, o presidente do Sinmea, Adriano Esteves, afirmou que num encontro que teve com a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta referiu que interessava entrar novos médicos, para que os médicos generalistas cubanos regressassem ao seu país, "mas está a fazer o contrário".
"Nós não estamos contra a vinda de médicos estrangeiros, essa é a ideia que certa imprensa pública faz passar, não é possível, porque mesmo com os médicos angolanos que estão a formar agora ainda somos poucos para cobrir o défice, vamos precisar de médicos expatriados na mesma", vincou.
Os custos para a contratação de médicos especialistas cubanos para assistência médica em Angola e formação de profissionais nacionais, ascendem a 79,3 milhões de dólares (70,2 milhões de euros).
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 433 mil mortos e infetou mais de 7,9 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Angola possui 140 infetados pelo novo coronavírus e seis mortos.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.