O Sindicato Nacional dos Médicos de Angola (SINMEA) defendeu, em Luanda, que os investimentos para a covid-19 sejam os mesmos do que para a malária, doença que mais mata no país, noticiou hoje a imprensa.
Em conferência de imprensa, na segunda-feira, para reclamar as injustiças contra a classe médica, o presidente do SINMEA, Adriano Manuel, questionou o comprometimento que as autoridades angolanas têm com o país, tendo em conta "o dinheiro que se gastou para resolver, até recentemente, no caso do novo coronavírus".
"Morrem mais pessoas de malária no país, de doenças do foro respiratório, de tuberculose, por causa do HIV, atualmente temos cada vez mais pobres no nosso país, e por isso há má nutrição crónica, cada vez mais", lembrou o médico.
Angola registou no primeiro trimestre deste ano, segundo dados do Programa Nacional de Luta contra a Malária, 2.548 mortes, de um total de 2.065.673 casos.
Para o sindicalista, a aposta governamental deveria ser para a medicina preventiva, mas, ao contrário, os investimentos são para a medicina curativa.
"Os governantes angolanos costumam vangloriar-se com os altos hospitais que estão a construir, os altos equipamentos, mas o que mata neste país são doenças preveníveis, 95% das patologias no nosso país são preveníveis", frisou.
Segundo Adriano Manuel, nunca se investiu tanto na saúde durante a atual governação como se faz agora.
"Nunca se criou uma comissão interministerial para se resolver o problema da malária, que é o que mata mais, da má nutrição, que é o que está a matar mais, mas temos uma comissão multiministerial que está a investir milhões e milhões de dólares", referiu o sindicalista, lembrando que um doente de covid-19, segundo informações da ministra da Saúde, custa em média 16 milhões de kwanzas (cerca de 23.500 euros), enquanto que o doente da malária nem metade custaria.
"E este doente que está em quarentena está assintomático, mas gasta-se 16 milhões de kwanzas, isto é uma aberração, e temos pessoas a morrer nos nossos hospitais", vincou.
O presidente do SINMEA sublinhou que não descura a gravidade da pandemia, contudo, é preciso que se dê atenção ao mesmo tempo às doenças que mais matam no país.
"Vale referir que a Europa tem comorbidades que nós não temos, por isso é que eles estão a morrer mais do que nós, as doenças da Europa são diferentes das nossas", salientou, reiterando que "é muito dinheiro que se está a gastar com a covid-19, deixando de fora a malária, a má nutrição crónica, as doenças respiratórias agudas".
De acordo com o médico, diariamente a pediatria de Luanda regista uma média de cinco a seis mortes e nos outros hospitais o número é maior.
"Vão para os cemitérios e vão ver as entradas, quantos cadáveres entram nos cemitérios, nenhum deles é de coronavírus", realçou.
A covid-19 já matou em Angola, desde março passado, seis pessoas, de um total de 142 casos positivos, com o registo também de 64 casos recuperados, de acordo com dados divulgados até segunda-feira pelas autoridades angolanas.
Em África, há 6.769 mortos confirmados em quase 252 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 436 mil mortos e infetou mais de oito milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.