O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização da sociedade civil moçambicana, considerou hoje «tímida» a redução da taxa de juro de política monetária (taxa MIMO) pelo Banco de Moçambique perante a magnitude do impacto da covid-19.
O Banco de Moçambique baixou na terça-feira a taxa MIMO em 100 pontos base para 10,25% para estar em linha com "uma nova revisão em baixa das perspetivas de inflação para o médio prazo, num cenário em que se prevê uma procura agregada mais contraída em 2020 e retoma branda em 2021".
Numa análise sobre a decisão do regulador financeiro moçambicano, o CDD considera a medida "tímida e ineficaz" para a mitigação dos efeitos macroeconómicos da covid-19.
"Esta medida anunciada pelo Banco de Moçambique é acertada, do ponto de vista de direção do ajustamento, mas a magnitude da redução é ainda muito tímida, tendo em conta o choque económico causado pela covid-19 no nosso país", diz a avaliação.
Moçambique é o país com a maior taxa de juro real na África Austral, porque aplica uma das mais elevadas taxas de juro de referência, acrescenta.
"O Banco de Moçambique, querendo, de facto, estimular a economia moçambicana em tempos desta crise provocada pela covid-19, deveria baixar mais a taxa MIMO a níveis de 4% a 5%, como se verifica no Botsuana e na Namíbia, países da África Austral", lê-se no texto.
O CDD nota que desde que foi decretado o estado de emergência no país, no dia 01 de abril, as taxas de juro de empréstimos bancários estão a aumentar, contrariando o sentido esperado com as medidas anunciadas pelo Banco de Moçambique.
Por outro lado, prossegue, com a decretação do estado de emergência, o volume de crédito adicional concedido pelos bancos comerciais ao Governo e à economia tem decrescido.
O CDD observa que em tempos de covid-19, em que muitas empresas e famílias ressentem-se da falta de liquidez ou de poupanças, estranhamente, há uma subida galopante de depósitos a prazo.
"O conservadorismo e a excessiva prudência na intervenção, tanto no mercado monetário como no mercado cambial, pelos quais o Banco de Moçambique pauta desde a decretação do primeiro estado de emergência, está a limitar a eficiência da política monetária em tempos de crise e, em alguns casos, acaba por gerar efeitos perversos aos desejados", conclui a análise.
Moçambique conta com um cumulativo de 662 casos positivos de covid-19 e quatro óbitos.
Em África, há 7.395 mortos confirmados em mais de 275 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 450 mil mortos e infetou mais de 8,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.