O pianista Filipe Raposo estreia, a 4 de julho, o Concerto para piano e orquestra de sua autoria, na rampa do Teatro das Figuras em Faro.
O concerto encerra a comemoração dos 15 anos do Teatro das Figuras, e acontece ao ar livre na rampa do Teatro, às 21:30, num momento visto por Filipe Raposo como “altamente simbólico”, chamando o público para a cultura.
“Há uma simbiose bonita daquilo que o concerto quer traduzir em termos de conjuntura atual e ao mesmo tempo o reabrir de portas da Cultura”, afirmou à Lusa Filipe Raposo.
O concerto resultou de um convite lançado por Rui Pinheiro, maestro titular da Orquestra Clássica do Sul (OCS), para uma residência artística, em que o pianista é o compositor residente durante um ano, sendo esta a primeira de duas composições escritas para a temporada.
A obra em estreia tem uma “estrutura tripartida”, à semelhança de muitos dos concertos clássicos, “com um andamento mais rápido, um andamento lento e um andamento rápido”, adiantou disse à Lusa.
O compositor revelou que parte da inspiração veio das palavras de José Tolentino Mendonça - “em silêncio, o rochedo vê chegar e partir as estações” -, cujo conteúdo poético estruturou o concerto, nos seus diferentes andamentos, escrito durante o período de confinamento.
“Estes versos fizeram um eco enorme nessa altura em que deixou de haver prazos e datas que estavam acordadas inicialmente, e este concerto foi um companheiro desse período”, afirmou.
O resultado final acaba por “refletir essa passagem do tempo” e a forma como a “Humanidade vai passando e dando lugar a novas gerações” e que o autor procurou que ficasse “traduzido através dos sons neste concerto”.
Os retiros ou residências artísticas não são algo inédito para os autores que as procuram, para aumentar a concentração na obra, mas a ausência de prazo para entrega, “mais do que a sua existência", “criou um vazio e uma angústia”.
“Essa ausência foi algo angustiante e dei por mim a lutar criativamente na escrita deste concerto, porque não estou habituado a ter todo o tempo e não haver data para finalização. Isso foi diferente de todos os projetos nos quais trabalhei”, revelou.
A angústia está presente neste concerto, mas “também alguma esperança”, assegura o compositor, trazida pela influência da música tradicional transmontana que “marca ritmicamente o terceiro andamento”, no que vê como “numa ligação à força da Terra” e numa indicação de “que a Humanidade continuará a lutar”, frisou.
Apesar de terminada, as influências do jazz improvisado de Filipe Raposo “fazem-se sentir na peça” deixando espaço para “alguma liberdade” e a possibilidade para “gerar momentos únicos em cada apresentação”.
Na programação estão incluídos ainda excertos do bailado "As Criaturas de Prometeu", de Beethoven, a propósito das comemorações dos 250 anos do nascimento do compositor alemão, e "Música para um Funeral Maçónico", de Mozart, com a OCS a ser dirigida pelo maestro titular, Rui Pinheiro.
As regras impostas no âmbito do combate à pandemia de covid-19 só permitem a disponibilização de 230 lugares, com um custo de 5 euros cada.