A companhia de Teatro Nacional 21 (TN21) vai estrear ‘online’ o espetáculo «O corpo de Helena», com texto de Paulo José Miranda e direção de Cláudia Lucas Chéu, uma revisitação contemporânea da tragédia grega.
O espetáculo vai poder ser visto gratuitamente entre os dias 26 e 28 de junho, às 21:00, em direto nas páginas de Facebook e de Instagram do coletivo TN21, companhia fundada em 2011 por Albano Jerónimo e Cláudia Lucas Chéu.
São cinco atores - Albano Jerónimo, António Durães, Emília Silvestre, Luís Puto e Marta Bernardes - em geografias físicas diversas, juntos num palco virtual que responde à urgência dos tempos, levando à cena o mais antigo cânone clássico teatral – a tragédia grega – no mais ultramoderno dos dispositivos – o ‘online’, anunciaram os promotores da iniciativa em comunicado.
O projeto, que começou a ser trabalhado no período de confinamento, parte da premissa de que estes “são tempos novos, diferentes” e que “obrigam a todos a uma reinvenção permanente”, segundo Albano Jerónimo.
Nesta lógica, a direção do TN21 avançou com a ideia de envolver toda uma equipa de atores, encenadores, cenógrafos, figurinistas, produção, autores, buscando a ideia de um espetáculo teatral físico em palco de tábuas comum.
O texto escolhido foi “O corpo de Helena”, de Paulo José Miranda, a partir da referência clássica da tragédia grega (Helena de Tróia).
“No fundo o texto é ‘per se’ uma metáfora do que se propõem a fazer: a consciência da personagem, o desafiar os deuses neste teatro em todo o seu processo 'online', na corda bamba do live na internet”, de acordo com a associação TN21.
A partir deste texto, vai ser criado um dispositivo de quatro janelas ‘online’ que serão habitadas pelas personagens Menelau, Agamémnon, Ulisses e pelo Coro, e cada uma delas será o reflexo de Gata (o passado), Anagata (o futuro), Paratyutpanna (o presente) e Vidya (a Sabedoria).
Os próprios ensaios são feitos exclusivamente através das plataformas digitais, sem contacto presencial.
Cada ator faz os ensaios a partir de casa, através do seu computador ou telemóvel, o que constitui uma vantagem, pois residindo cada um deles em zonas diferentes do país, não seria fácil reunir fisicamente todo o grupo.
A primeira apresentação, marcada para dia 26 de junho, será seguida de uma conversa com Albano Jerónimo, Cláudia Lucas Chéu, Paulo José Miranda (autor do texto), Miguel Real (escritor) e o público.
O desafio da conceção cénica será encontrar nas casas de casa ator, os materiais necessários para compor o enquadramento da cada janela digital.
A TN21 decidiu criar um Fundo de Apoio à Criação, para jovens artistas formados em Artes Performativas, no último ano letivo (2018/2019), com um montante inicial de 500 euros.
Neste âmbito, apesar de o espetáculo ser gratuito, o público é convidado a contribuir para o fundo, que será atribuído no final.
“O corpo de Helena” regressa à famosa história dos Atridas, mas, neste novo milénio, é “ainda mais uma leitura de velhas palavras e conceitos, onde o século XX e o XXI continuam a encontrar um arquétipo para a sua experiência”.
Muito do pensamento helénico mantém-se vivo e determinante no texto contemporâneo, porque, mais do que a forma, é sobretudo o tema que marca afinidades.
Personagens e coro, planos distintos de ação, humano e divino, conflitos latentes entre a natureza viril e feminina, entre o social e o doméstico, e entre a fraqueza humana e os habitantes do Olimpo, são todos elementos que, à boa maneira da tragédia grega, estarão presentes neste espetáculo.