Mais de 70 migrantes desembarcaram na quarta-feira na ilha italiana de Lampedusa, situada na rota migratória do Mediterrâneo Central (que sai da Argélia, Tunísia e Líbia em direção à Itália e a Malta), informaram hoje os ‘media’ italianos.
Num período de poucas horas, três embarcações com 11, 10 e 36 migrantes tunisinos a bordo, respetivamente, chegaram à costa da ilha de Lampedusa, segundo relatou a agência de notícias italiana Agi, citando fontes policiais locais.
Uma quarta embarcação com outros 14 migrantes a bordo chegou durante a noite de quarta-feira.
Após serem identificados e submetidos a um primeiro controlo sanitário, os migrantes serão transferidos para um centro de acolhimento local, segundo a agência italiana.
Na quarta-feira, o navio humanitário “Ocean Viking”, da organização não-governamental (ONG) francesa SOS Méditerranée, que começou a patrulhar esta zona do Mediterrâneo nos últimos dias, relatou ter "avistado através de binóculos uma embarcação de madeira com 30 a 40 pessoas a bordo, que estava na rota em direção a Lampedusa".
“O ‘Ocean Viking’ contactou as autoridades italianas e maltesas”, afirmou a ONG, relatando que, após o contacto com as autoridades, a tripulação do navio humanitário “constatou que as pessoas a bordo foram transportadas para um navio da guarda costeira italiana”.
“A coordenação foi realizada sem problemas com os guardas costeiros italianos”, assinalou a SOS Méditerranée.
Localizada entre Malta e a Tunísia, a ilha italiana de Lampedusa está situada a cerca de 130 quilómetros das costas tunisinas e a cerca de 290 quilómetros das costas líbias.
Apesar da ameaça da pandemia de covid-19, o fluxo migratório no Mediterrâneo acabou por nunca parar e com a chegada do verão, e consequentemente melhores condições de navegabilidade, é espetável que as tentativas de travessia para tentar alcançar a Europa aumentem nas próximas semanas.
Por exemplo, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) relatou hoje que a guarda costeira da Líbia intercetou na quarta-feira 71 migrantes, incluindo quatro mulheres e duas crianças, que tentavam chegar à Europa.
Segundo a OIM, os migrantes foram reencaminhados para a capital líbia, Tripoli.
A Líbia, país imerso num caos político e securitário, tornou-se nos últimos anos uma placa giratória para centenas de milhares de migrantes, sobretudo africanos e árabes que tentam fugir de conflitos, violência e da pobreza, que procuram alcançar a Europa através do Mar Mediterrâneo.
O país não é considerado um porto seguro e tem sido um terreno fértil para as redes de tráfico ilegal de migrantes e situações de sequestro, tortura e violações.
Apesar deste cenário, muitos migrantes tentam fazer a travessia do Mediterrâneo em botes de borracha ou embarcações de madeira mal equipados e muito precários em termos de segurança.
Segundo as estimativas da OIM, mais de 20 mil pessoas terão morrido durante a travessia da rota migratória do Mediterrâneo desde 2014.
Ao longo dos últimos anos, a União Europeia (UE) apoiou a guarda costeira líbia e outras forças locais para tentar conter a saída de migrantes em direção à Europa.
Várias organizações não-governamentais de defesa dos direitos humanos sempre denunciaram que tais esforços tinham deixado os migrantes à mercê de grupos armados locais ou retidos em centros de detenção sobrelotados e com condições de vida muito precárias.
Em fevereiro passado, a UE acordou trocar a missão de patrulhamento e de controlo do fluxo de migrantes no Mediterrâneo (designada como Sophia) por uma missão que visa bloquear a entrada de armas na Líbia e cumprir o embargo imposto pelo Conselho de Segurança da ONU, encarado como essencial para travar o conflito civil em curso no território líbio.