Uma média semanal de 4.500 adolescentes e jovens ficaram infetadas com HIV, no ano passado, na África Subsaariana, onde mulheres e raparigas representaram 59% das novas infeções, segundo dados da ONUSIDA.
De acordo com o relatório anual da agência das Nações Unidas para o VIH/Sida (ONUSIDA), as mulheres e raparigas continuam a ser as mais afetadas pela doença na África Subsaariana, tendo representado 59% das novas infeções registadas na região em 2019.
Em média, adianta o documento, 4.500 adolescentes e jovens mulheres com idades entre os 15 e os 24 anos ficaram infetadas por semana.
Na África Austral e Oriental, três em cada cinco novas infeções ocorreram entre mulheres, e a incidência de infeções por HIV entre os 15 e 24 anos permanece "excessivamente elevada", de acordo com o relatório, que aponta que as raparigas têm 2,5 vezes mais probabilidades do que os rapazes de contrair infeções.
Apesar disso, o relatório aponta que, quando consideradas as infeções totais, a região fez progressos, registando uma redução de 38% nas novas infeções desde 2010.
A implementação de programas de despistagem e tratamento do HIV refletiu-se numa diminuição de 49% de mortes relacionadas com a sida desde 2010, uma redução mais acentuada do que em qualquer outra região.
No entanto, estima-se que, mesmo assim, morreram 300 mil pessoas devido a doenças relacionadas com a sida.
Os dados indicam que 72% das pessoas que vivem com HIV na África Austral e Oriental estão em tratamento e 65% suprimiram a carga viral da doença.
O relatório aponta que a região está a aproximar-se dos objetivos em matérias de testes e tratamentos com sete países a terem alcançado a meta - Botswana, Esuatini, Namíbia, Ruanda, Uganda, Zâmbia e Zimbabué - e três outros muito próximos dela - Quénia, Maláui e a Tanzânia.
O objetivo estabelecido para 2019 era conseguir diagnosticar 90% de população infetada, colocar 90% da população diagnosticada em tratamento antirretroviral e ter 90% dos doentes com carga viral indetetável.
Entre os países lusófonos desta região, Angola tem 62% de doentes diagnosticados e 44% em tratamento, enquanto Moçambique atingiu 77% de diagnósticos, 77% de doentes em tratamento antirretroviral e 75% dos doentes com carga viral suprimida.
Na região da África Ocidental e Central, as mulheres e raparigas representaram 58% das 240 mil novas infeções estimadas em 2019.
Cerca de dois terços das novas infeções por VIH entre adultos registaram-se entre trabalhadores do sexo (19%), homossexuais e outros homens que fazem sexo com homens (21%), clientes de trabalhadores do sexo e parceiros sexuais destes (27%).
Estima-se que apenas 58% das mulheres grávidas com HIV receberam terapia antirretroviral para prevenir a transmissão, entre as coberturas mais baixas do mundo, aponta o documento.
A grande maioria das novas infeções infantis pelo HIV na região ficou a dever-se à baixa cobertura da terapia antirretroviral entre as mulheres grávidas infetadas: 60% das infeções infantis em 2019 ocorreram porque as grávidas seropositivas não receberam medicamentos antirretrovirais durante a gravidez (42%) ou durante a amamentação (18%).
Globalmente, desde 2010, as novas infeções pelo HIV na região diminuíram 25% e as mortes relacionadas com a sida caíram 37%.
O relatório refere que a região continua muito longe de atingir os objetivos 90-90-90, com apenas 58% das pessoas que vivem com HIV a terem acesso à terapia antirretroviral em 2019.
Entre os países de língua portuguesa da região, Cabo Verde apresenta 94% de doentes diagnosticados entre os rapazes e homens com mais de 15 anos e 53% de população infetada com a carga viral suprimida.
Na Guiné-Bissau, a percentagem de doentes diagnosticados é de 54%, sendo que 75% destes estão a fazer tratamento.
Os doentes diagnosticados atingem os 69% na Guiné Equatorial, 52% dos quais estão a ser tratados com antirretrovirais.
O relatório não apresenta dados para São Tomé e Príncipe.
A ONUSIDA concluiu que o "mundo está muito atrasado na prevenção de novas infeções pelo HIV", estimando em cerca de 1,7 milhões o número de pessoas recentemente infetadas com o vírus, mais de três vezes o objetivo global traçado.
No ano passado, 690 mil pessoas morreram de doenças relacionadas com a sida e 12,6 milhões dos 38 milhões de pessoas que vivem com HIV não tiveram acesso a tratamento.
O relatório assinala ainda os "sérios impactos" da pandemia de covid-19 na resposta à sida, considerando que os seus efeitos poderão ser ainda piores.
Uma interrupção completa de seis meses nos tratamentos do HIV, provocada pela pandemia, poderia causar mais de 500 mil mortes adicionais na África Subsaariana durante o próximo ano (2020-2021), trazendo a região de volta aos níveis de mortalidade da sida de 2008, estimam as Nações Unidas.
A ONUSIDA apelou, por isso, aos países para que aumentem os financiamentos para a luta contra as duas doenças.
Em 2019, o financiamento para HIV caiu 7% em relação a 2017, para 18,6 mil milhões de dólares (cerca de 16 mil milhões de euros).
"Este recuo significa que o financiamento está 30% aquém dos 26,2 mil milhões de dólares (cerca de 23 mil milhões de euros) necessários para responder eficazmente ao HIV em 2020", adianta a organização.