O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) lamentou hoje a inexistência de mecanismos de monitorização na crise do desporto, devido à pandemia de covid-19, revelando que o período de confinamento penalizou de forma «muito significativa» tecido associativo.
José Manuel Constantino falava à agência Lusa, em Lisboa, num centro de acolhimento, à margem de uma cerimónia de doação de bicicletas aos 25 refugiados menores acolhidos esta semana pela Cruz Vermelha Portuguesa (CVP).
“Nós entendemos que as autoridades públicas deviam ter mecanismos de monitorização da situação, à semelhança de outros setores de atividade, como aconteceu na cultura, na indústria e no comércio, em que foi possível monitorizar os efeitos da crise nestes setores”, realçou.
De acordo com o presidente do COP, há um défice no acompanhamento da situação e é urgente tomar uma atitude, adiantando que há países – como Alemanha, França e Espanha – que já têm respostas públicas para o problema que se vive no deporto.
“Nós lamentamos que o desporto tenha ficado de fora, mas é preciso agora não esquecer. É preciso encontrar um pacote de medidas que procure minimizar ou reduzir o impacto que a situação está a ter no setor desportivo”, atentou, referindo que o COP não tem “possibilidade de ter uma avaliação rigorosa sobre quais são a consequências do ponto de vista financeiro, quantificação financeira, do facto das atividades estarão paralisadas”.
À Lusa, José Manuel Constantino revelou ainda a existência de reuniões com Governo, no sentido de avaliar a situação desportiva nacional e discutir as medidas que devem ser adotadas face ao contexto pandémico.
“O retomar das atividades não vai ser em linha com o que era a normalidade anterior, vai haver regras sanitárias que vão ser exigidas […]. Uma imprevisibilidade relativamente ao modo de como se podem retomar as atividades”, observou o dirigente, acrescentando que “ausência de resposta da parte das autoridades públicas cria um quadro de muita incerteza e de imprevisibilidade”.
Apontando para os prejuízos no setor, desde março, José Manuel Constantino sustentou que os clubes deixaram de ter receitas e que muitas pessoas ficaram desempregadas, por as atividades estarem paradas.
“Há todo um fluxo de receita que ajuda o tecido associativo de base que deixou de entrar. A ausência desta entrada traduz-se naturalmente em dificuldades acrescidas para a manutenção e sustentabilidade das estruturas”, frisou.
Durante a tarde de hoje, os presidentes dos Comité Olímpico de Portugal (COP), Comité Paralímpico de Portugal (CPP) e Confederação do Desporto de Portugal (CDP) vão estar numa audiência com caráter de urgência, na comissão de Educação, Ciência, Juventude e Desporto da Assembleia da República, para analisar a situação desportiva no país.
No encontro, José Manuel Constantino, José Manuel Lourenço e Carlos Paula Cardoso, presidentes do Comité Olímpico de Portugal (COP), do Comité Paralímpico de Portugal (CPP) e da Confederação do Desporto de Portugal (CDP), respetivamente, analisaram as “condições da retoma da atividade desportiva em Portugal” e a “urgência da revisão da distribuição de verbas dos jogos sociais”.
A pandemia de covid-19 já provocou 555 mil mortos e infetou mais de 12,2 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.644 pessoas das 45.277 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde (DGS).