A etapa inaugural dos Nacionais de voleibol de praia, a decorrer entre sexta-feira e domingo em Cortegaça, estreia metade do primeiro Centro de Alto Rendimento (CAR) do país, cujo pavilhão permitirá acolher treinos todo o ano.
“A mais-valia é termos a possibilidade de treinar no inverno com boas condições. Para já, o pavilhão não está a ser utilizado. Apenas utilizaremos três campos de apoio no exterior desta infraestrutura coberta, que tem capacidade para receber outros tantos campos de voleibol”, explicou à agência Lusa Leonel Salgueiro, diretor técnico nacional de voleibol.
Em maio, a Federação Portuguesa de Voleibol (FPV) assinou um protocolo de cooperação com a Junta de Freguesia de Cortegaça, vila do município de Ovar, assente na dinamização de um pavilhão “que tinha uma utilização muito reduzida” em prol de um “projeto de promoção, divulgação e ampliação” da vertente de praia junto dos jovens.
“Claramente que a pandemia de covid-19 veio estragar um bocado os nossos planos. Temos um plano relativamente adiado até que a situação volte à normalidade. Esperamos que esta parceria seja duradoura e acreditamos que a prática do voleibol de praia vai aumentar exponencialmente com a utilização desta infraestrutura”, afiançou.
Essa dinâmica pauta o arranque dos campeonatos nacionais de 2020, que reúnem 22 duplas masculinas e nove femininas a nível sénior, sob fortes restrições motivadas pelo novo coronavírus, após uma paragem competitiva que veio antecipar o desfecho da última época nos pavilhões e atrasou o calendário nos areais de norte a sul de Portugal.
“Era algo desejável pela FPV, pelos atletas, pelo próprio Governo e pela Direção-Geral da Saúde (DGS), que introduziu medidas favoráveis ao regresso dos desportos individuais a nível federado e competitivo. Estamos cá dentro da lei e, tal como em ‘indoor’, iremos chamar os mais novos quando for possível”, frisou Leonel Salgueiro.
Se o projeto “Gira-Praia”, que proporciona estímulos competitivos aos jovens de todo o país, “acabou por ficar em ‘stand-by’ e vai continuar no próximo ano”, o organismo federativo mantém esperanças intactas no projeto olímpico rumo a Paris20204, que contempla duas duplas masculinas e outras tantas femininas a competir em Cortegaça.
“As mulheres começaram há três anos e os homens arrancaram no ano passado. Vamos trabalhar, acreditar e dar tempo de adaptação aos atletas para se conseguirem potenciar e aparecer a nível europeu. O voleibol de praia mudou muito face ao início do milénio, em que não havia muita gente e poucos se dedicavam exclusivamente a isto”, enquadrou.
Prova disso é a aposta em João Nuno Pedrosa e Hugo Campos, que sofreram com o “azar de ver uma pandemia estragar a época”, mas aproveitaram logo a primeira fase do desconfinamento para recuperar a forma no CAR de Cortegaça, acreditando estarem “com algum avanço, já que nem todos tiveram a chance de começar a treinar tão cedo”.
“Depois de tanto tempo parado e sem tocar na bola, foi muito bom estar de volta e poder jogar já vai ser excelente. Viemos cá para nos divertir e tentar chegar o mais longe possível. Estas regras são estranhas para todos. Por exemplo, só esta semana comecei a usar óculos de sol em jogo, mas é uma questão de hábito”, referiu à Lusa João Pedrosa.
Habituado a jogar voleibol nas praias de Espinho, o atleta, de 20 anos, foi “atrás do gosto” e incentivou o maiato Hugo Campos a seguir as mesmas pisadas há quatro anos, antes de formarem uma equipa que venceu um torneio europeu sub-21 em 2019 e disputará uma etapa do circuito mundial em Montpellier e outra taça continental até setembro.
“No regresso parecia que nem sabíamos jogar voleibol. Apenas tocávamos a bola contra a parede em casa e era completamente diferente. Foi muito difícil recomeçar e quase nem sabíamos fazer um passe ou uma manchete. Agora, o problema é que ninguém está habituado a usar máscara com este calor”, gracejou à Lusa o jogador, de 19 anos.
Movidos pela reativação dos tempos dourados do voleibol de praia luso, expresso nas meias-finais alcançadas por Miguel Maia e João Brenha nos Jogos Olímpicos Atlanta1996 e Sydney2000, João Nuno Pedrosa e Hugo Campos vão passar por Oeiras (24 a 26 de julho), Figueira da Foz (31 de julho a 02 de agosto) e Portimão (07 a 09 de agosto), terminando os Nacionais entre 14 e 16 de agosto, na Praia Internacional do Porto.