A oposição questionou hoje as contrapartidas de 642 mil euros que a Câmara do Porto pretende assumir para que a sede da Liga de Futebol se mantenha na cidade, levando Rui Moreira a dizer-se envergonhado com a discussão.
"Eu tenho uma enorme vergonha que este assunto tenha de ser discutido assim. Quando nós vivemos num país em que para projetos efémeros como a Web Summit se gastam, num ano, 11 milhões de euros", afirmou o independente em resposta à vereadora socialista Maria João Castro que, na reunião de hoje do executivo municipal, defendeu que pelo menos, a revisão da renda de 50 euros que a Liga vai pagar deve ser revalidada.
A Câmara do Porto aprovou hoje, com abstenção da CDU e da vereadora socialista Odete Patrício, a proposta de cedência à Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) um terreno para a uma nova sede, a instalar na Rua de John Whitehead, em Ramalde, cujas negociações decorreram ao longo de três anos e meio e visaram garantir a manutenção da sede da Liga no Porto.
Enquanto portuense, o autarca lamentou que, passados todos estes anos, a cidade do Porto continue a ser "irresoluta" quando surgem oportunidades como esta, e mostrou-se confiante de que o projeto vai ser aprovado, em sede de Assembleia Municipal, onde não detém a maioria.
"Se fosse em Lisboa, os senhores [os socialistas] ofereciam o edifício, inventavam um edifício e ofereciam. (...) Eu, enquanto portuense, tenho vergonha desta discussão(…) e é por isso que depois nós perdemos, depois de andarem a lutar connosco, por outros investimentos que prometeram à cidade do Porto e que não vieram: o Infarmed ", reiterou, explicando que, na prática, os 642 mil euros é receita que a câmara não vai receber.
Mais tarde, novamente questionado sobre as contrapartidas, desta feita pela vereadora socialista Odete Patrício, Moreira instou os vereadores socialistas a assumirem as suas responsabilidades e a dizerem claramente se querem ou não querem o projeto, acrescentando que este é o momento da decisão política.
O independente sublinhou que se nada fosse construído no terreno a permutar com a Liga o município não teria receita nenhuma e referiu que, a autarquia, poderia ter optado por sobreavaliar o terreno para cobrir as contrapartidas, o que não fez.
Antes, Odete Patrício havia defendido que as contrapartidas deviam ser sustentadas por um estudo macroeconómico em face dos montantes em causa.
A questão das contrapartidas havia já sido levantada pela CDU e pelo PSD, que decidiu, contudo, votar favoravelmente a proposta por considerar que a dimensão do projeto em causa.
Apesar de se congratular com a escolha do Porto, o vereador do PSD, Álvaro Almeida, admitiu que as contrapartidas oferecidas pela autarquia são significativas, podendo-se questionar se "este é o valor correto".
Pela CDU, a vereadora Ilda Figueiredo sublinhou que não está contra o projeto, mas defendeu a necessidade de avaliar melhor as contrapartidas acordadas.
Antes da discussão da proposta, o presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), Pedro Proença, apresentou o projeto da nova sede da Liga cujas obras devem estar concluídas em 2023.
Descrevendo o projeto da autoria do gabinete de arquitetura Ooda, responsável obra do Matadouro Industrial de Campanhã, como "icónico" e comparando-o até à ao edifício emblemático da Casa da Música, Pedro Proença adiantou que edifício terá sete pisos, representando um investimento privado de 18 milhões de euros.
Com uma dimensão nacional, a nova sede da Liga terá "a primeira licenciatura mundial de gestão de futebol profissional", um centro incubador de empresas, uma área dedicada à formação, outra à investigação e um museu.
As intervenções da oposição levaram o presidente da Liga a avisar que em causa estão 18 milhões de euros de investimento privado que se não for feito no Porto, será feito noutro sítio e até melhores condições.