O Banco de Cabo Verde admite que a recessão esperada para 2020 será mais profunda, podendo atingir uma contração de 11% do Produto Interno Bruto (PIB), devido aos riscos que a economia cabo-verdiana ainda enfrenta com a pandemia.
As previsões constam do Relatório de Política Monetária, divulgado hoje pelo banco central cabo-verdiano, e apontam ainda para uma recuperação económica mais modesta em 2021, que pode ser de apenas 3% do PIB, em função dos mesmos riscos, sobretudo no atraso da retoma do turismo no arquipélago, ainda condicionada pela pandemia de covid-19.
A estimativa de outubro do Banco de Cabo Verde (BCV) aponta para, no cenário base, uma recessão de 8,1%, que pode chegar aos 10,9% do PIB no cenário mais adverso, enquanto que para 2021 o crescimento poderá oscilar entre 3,0 e 5,1%.
Estas previsões contrastam com as expectativas oficiais do Governo cabo-verdiano, na proposta de Orçamento do Estado para 2021 que já admitiam uma recessão histórica, entre 6,8% e 8,5% do PIB este ano, e um crescimento económico no próximo ano de 4,5%, caso se confirme o desconfinamento internacional.
Cabo Verde depende economicamente do turismo, que representa 25% do PIB, mas o setor está parado desde 19 de março, quando foram suspensos os voos internacionais comerciais, para conter a transmissão da covid-19.
No relatório hoje divulgado, o BCV admite que o “exercício de programação financeira encerra um elevado nível de incertezas” no atual contexto, face à “natureza do atual choque exógeno” provocado pela pandemia.
Entre vários riscos ao desempenho económico, o banco central aponta os efeitos na procura turística em dezembro de 2020 e no primeiro trimestre de 2021, devido à segunda vaga de contágios por covid-19 nos principais países emissores de turistas para Cabo Verde, sobretudo europeus.
Igualmente os impactos no mercado de trabalho e rendimento das famílias “de eventuais encerramentos de empresas sem condições de acomodar uma dilatação temporal ou um agravamento de restrições às suas atividades”, mas também os relacionados com “eventuais atrasos ou adiamentos no desembolso de ajudas externas ao Estado” e com isso também a execução dos Orçamentos do Estado de 2020 (Retificativo) e 2021.
Outro dos receios do BCV prende-se com um “impacto maior que o antecipado” no processo de saída do regime de moratórias do crédito bancário e do regime de ‘lay-off’ simplificado, implementadas desde abril e que continuam em vigor.
“Considerando, num cenário adverso, a materialização dos riscos acima elencados, a contração do PIB em volume em 2020 seria de 11% e o crescimento em 2021 não ultrapassaria os 3%”, lê-se no relatório.
O BCV sublinha que “as incertezas que rodeiam o processo de recuperação da economia” de Cabo Verde, “do pior choque sofrido desde a independência, interpelam a um reiterado esforço de acomodação monetária pelo banco central”.
Neste quadro, e perspetivando “contidas pressões inflacionistas e na balança de pagamentos”, o BCV refere que manterá inalteradas as taxas diretoras, das facilidades permanentes de cedência e de absorção da liquidez, bem como o coeficiente das disponibilidades mínimas de caixa, em “níveis historicamente baixos”, de 0,25, 0,5, 0,05 e 10%, respetivamente.
“Igualmente, o provisionamento excecional de liquidez aos bancos e as regras prudenciais mais flexíveis continuarão a suportar a intermediação financeira e, consequentemente, a facilitar o financiamento da economia”, frisou o BCV.
E o banco central concluiu: “A autoridade monetária e supervisora do sistema financeiro nacional manterá um controlo apertado dos riscos à estabilidade nominal e financeira do país, que constitui condição necessária para conter os impactos da pandemia da covid-19 e promover o progresso económico e social do país”.