O Barcelona concluiu hoje na Corunha, com um empate (1-1), a melhor temporada futebolística da sua história, coroada com a conquista da Liga dos Campeões, Liga espanhola e Taça do Rei, um inédito “triplete”.
Na estreia a alto nível do treinador Josep “Pep” Guardiola, o “Barça” encantou a Espanha e a Europa durante nove meses “mágicos”, marcados, invariavelmente, por um futebol muito ofensivo, de enorme qualidade, feito de posse de bola, classe, golos e vitórias.
Em 62 jogos, os catalães somaram 42 vitórias, 13 empates e sete derrotas, com 158 golos marcados e 55 sofridos, e, mais importante, ganharam todas as provas em que participaram, somando o terceiro título europeu (após 1992 e 2006), o 19.º espanhol e o 25º na Taça do Rei.
Ao arrebatar os três troféus, o “Barça”, que somou a quinta “dobradinha” interna (1951/52, 52/53, 58/59 e 97/98), juntou-se na galeria europeia a Celtic (66/67), Ajax (71/72), PSV (87/88) e Manchester United (98/99), a equipa que venceu na final da “Champions” (2-0), em Roma.
O argentino Lionel Messi, que vai suceder a Cristiano Ronaldo como “Bola de Ouro” e jogador do ano da FIFA, foi a grande figura da equipa, com um futebol tão deslumbrante como efectivo, a bola sempre colada ao pé, assistências, golos... um caso de classe ímpar.
Se Messi resolveu a solo uma série de jogos e disse sempre “presente” nos grandes momentos, muitas outras individualidades brilharam, com especial evidência para uma fabulosa dupla de médios igualmente nascidos na “cantera” do “Barça”: Xavi, o “6”, e Iniesta, o “8”.
Não se podem, porém, esquecer, longe disso, os outros dois avançados, o camaronês Samuel Eto’o e o francês Thierry Henry, que, com Messi, totalizaram... 100 golos (72 na Liga, 21 na “Champions” e sete na Taça do Rei), sendo um verdadeiro tormento para todas as defesas contrárias.
Os destaques individuais estendem-se ao brasileiro Daniel Alves (contratado ao Sevilha), incasável em todo o corredor direito, aos centrais Puyol, o “capitão” e símbolo da mística catalã, e Piqué (resgatado ao Manchester United), a grande revelação da temporada, a par do médio Sergio Busquets, uma aposta ganha de Guardiola.
A enorme temporada protagonizada pelo marfinense Yaya Touré, sobretudo à frente da defesa, mas, quando necessário, também como central, não pode igualmente ser esquecida, bem como a segurança do guarda-redes Victor Valdés e a utilidade de jogadores como o francês Eric Abidal, o maliano Keita, o mexicano Rafael Marquez, o miúdo Bojan e também o veterano brasileiro Sylvinho.
O “Barça” fez uma época para a lenda, depois de um começo muito complicado, com as saídas de Ronaldinho e Deco, o quase abandono de Eto’o (insistiu para ficar), a contestação à direcção presidida por Joan Laporta e a aposta num treinador sem experiência.
Apenas uma vitória nos primeiros quatro jogos oficiais adensaram os problemas e o jovem técnico foi contestado, mas seguiram-se 11 triunfos consecutivos e tudo mudou, já que, rapidamente, surgiu a ideia que a equipa poderia estar a caminho de uma época histórica.
Essa sensação foi sendo alimentada por sucessivas vitórias e, na “hora h”, a equipa foi igual a si própria... brilhante: decidiu o campeonato com uma inolvidável goleada face ao rival Real Madrid (2-6 em pleno Bernabéu), destroçou o Athletic de Bilbau na final da Taça do Rei (4-1 em Valência) e, para acabar da melhor forma, não deu hipóteses ao United na final da “Champions” (2-0 em Roma).
Numa época toda eles de recordes, foram também muitos os que o “Barça” fez cair no campeonato: mais pontos num campeonato a 20 (87), mais golos fora (44) e mais vitórias consecutivas fora (nove).
Os catalães igualaram ainda os registos históricos de vitórias fora (as mesmas 13 do Atlético de Madrid, em 1995/96) e da diferença total de golos (+70, o mesmo registo que também o FC Barcelona conseguiram em 1958/59, então com 96 golos marcados e 26 sofridos).
Por bater, por culpa de ter poupado as grandes figuras nas três derradeiras rondas (um empate e duas derrotas), ficaram os recordes de golos marcados (105, contra os 107 do Real Madrid em 1989/90) e vitórias (27, contra 28 do Real Madrid em 87/88).
Em todas as provas, o “onze” de Guardiola só penou verdadeiramente frente ao Chelsea: o sistema ultra-defensivo montado por Guus Hiddink quase arredou o “Barça” da final da “Champions”, mas, quando tudo parecia perdido, Iniesta marcou o golo do ano... e escreveu-se justiça: os catalães foram a melhor equipa da Europa em 2008/2009.