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LC/África: Manuel José vê «portas abertas» caso Jaime Pacheco triunfe

Um eventual triunfo do Zamalek sobre o arquirrival Al-Ahly na final 100% egípcia da Liga dos Campeões africana de futebol vai abrir horizontes ao treinador português Jaime Pacheco, defendeu o homólogo Manuel José.

LC/África: Manuel José vê «portas abertas» caso Jaime Pacheco triunfe
Futebol 365

“Se ganhar, as portas dos melhores clubes de África e do Médio Oriente abrem-se no imediato. Disso não tenho dúvidas”, frisou à Lusa o ex-técnico do Al-Ahly, de 74 anos, vencedor em 2001, 2005, 2006 e 2008 e um dos lusos campeões continentais de clubes nos bancos, a par de Artur Jorge, José Mourinho, André-Villas Boas e Jorge Jesus.

O 239.º capítulo da histórica rivalidade entre os dois principais clubes do Egito realiza-se na sexta-feira, às 19:00 de Lisboa, no Estádio Internacional do Cairo, e representa uma final inédita em 56 edições da maior prova africana de clubes, da qual o Al-Ahly é recordista, com oito títulos, menos três que Zamalek e os congoleses do TP Mazembe.

“Diria que foi muito mais importante para o Jaime Pacheco ganhar a I Liga portuguesa pelo Boavista [em 2000/01], porque foi o único a fazê-lo e está inegavelmente num patamar acima dos outros treinadores que por lá passaram. Contudo, vencer a Liga dos Campeões pelo Zamalek terá uma repercussão internacional muito maior”, comparou.

Aos 62 anos, o técnico natural de Paredes vai encarar o jogo mais importante da sua carreira no estrangeiro, que percorreu Espanha, China e Arábia Saudita e foi reativada em 23 de setembro, quando regressou ao comando do Zamalek, a tempo de ultrapassar os marroquinos do Raja Casablanca (1-0 e 3-1) nas meias-finais da ‘Champions’.

“Desde a primeira passagem, o Mortada Mansour já tinha convidado quatro ou cinco vezes e o Jaime resolveu, e bem, nunca regressar. De repente, voltou. Telefonou-me na altura, contou-me as novidades e disse-lhe que era suficiente maluco como esse presidente. Ainda assim, é melhor do que estar sem fazer nada”, contou Manuel José.

O antigo internacional português, campeão nacional, europeu e mundial pelo FC Porto, e ex-técnico de Paços de Ferreira, Vitória de Guimarães ou Belenenses na I Liga esteve envolvido no 12.º e último campeonato do Zamalek, em 2014/15, mas só durou três meses, apesar das nove vitórias em 12 jogos, sendo rendido por Jesualdo Ferreira.

“O Jaime Pacheco saiu quando estava no primeiro lugar da Liga egípcia. Não foi pelos resultados, mas pela prepotência do presidente, a quem não deixou que interferisse no seu trabalho. É uma pessoa altamente polémica e deve ter o recorde mundial de despedimentos de treinadores. O normal é ter dois ou três por época”, apontou.

Inativo desde 2017, o português foi a terceira aposta de Mortada Mansour em 2019/20 e segurou o segundo lugar do Zamalek no campeonato, na companhia de Shikabala (ex-Sporting) e Zizo (ex-Nacional e Moreirense), além de continuar a progredir na Taça do Egito e ter devolvido os ‘cavaleiros brancos’ à final continental quatro anos depois.

“Não lhe posso dar conselhos após ter ajudado o Al-Ahly a ganhar 20 títulos. Já estou no museu deles antes de ter morrido. Virei lenda no Egito. Não é uma vaidade, mas uma realidade. A imprensa hoje é universal e não quero ofender ninguém. Gosto muito do Jaime, somos amigos há longo anos, mas ganhe quem for melhor e merecer”, apontou.

Treinados há dois meses pelo sul-africano Pitso Mosimane, os ‘diabos vermelhos’ contam com Ramy Rabia, Saleh Gomaa, Mahmoud Kahraba e Marwan Mohsen, ex-atletas de Sporting, Nacional, Desportivo das Aves e Gil Vicente, respetivamente, e arrebataram a Liga egípcia pela 42.ª vez, com 18 pontos sobre o vice-líder Zamalek.

“Não acompanho com a assiduidade do passado, mas vou tendo informações das duas equipas praticamente eliminatória atrás de eliminatória. Sobretudo desde que o Jaime Pacheco tomou conta do Zamalek, mas também pela minha ligação ao Al-Ahly. Ia com muita frequência ao Egito, agora muito menos devido à pandemia”, referiu Manuel José.

O ex-treinador de Jaime Pacheco no Sporting, na época 1985/86, nota que a conversão da final da Liga dos Campeões num jogo único pode esbater o favoritismo dos ‘diabos vermelhos’, até porque os ‘cavaleiros brancos’ estão invictos sob orientação lusa e venceram os últimos dois dérbis, um dos quais relativo à Supertaça do Egito.

“Numa das minhas finais começámos por empatar 1-1 em casa com 100 mil adeptos. Quando saímos do relvado, os jogadores do Sfaxien iam todos a cantar como se já tivessem vencido. Sabendo eu que aquilo é tudo emocional, entrei no balneário deles, mesmo ao lado do nosso, e virei-me aos gritos a dizer que íamos ganhar”, recordou.

Manuel José aludia à primeira mão disputada em 29 de outubro de 2006, duas semanas antes do reencontro no Estádio Olímpico de Radès, na Tunísia, decidido com um golo solitário do mediático Mohamed Aboutrika nos descontos, que ajudou a imortalizar o legado deixado pelo antigo técnico de Benfica, Sporting ou Boavista em África.

“Houve três ou quatro jogadores nossos que vieram atrás de mim com medo de que alguém me batesse. Fiz aquilo de propósito, até porque, na verdade, estava a falar para os meus jogadores e não para eles. O facto é que ganhámos o segundo jogo e fomos campeões. Esse foi o jogo mais emblemático das cinco finais que disputei”, agregou.

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