As escutas telefónicas relacionadas com o Vizela-Fafe (1-0), da II Divisão B em 2003/2004, estiveram na base da desclassificação dos vizelenses na Liga de Honra de futebol, decretada hoje pela Comissão Disciplinar (CD) da Liga.
Benjamim Castro, vice-presidente do Vizela, e Pedro Sanhudo, árbitro do Porto, são os protagonistas de conversas anteriores e posteriores ao desafio, às quais a Agência Lusa teve acesso, que o CD considerou como de ilícito e benefício mútuo: bens materiais a troco de uma arbitragem que viola as leis do jogo e favorável aos locais.
''Posso estar à vontade para domingo?'', questiona o dirigente, ao qual o árbitro responde ''Então não podes porquê?'', reforçando a ideia com um ''podes, podes (…) dorme descansado''.
Seis dias após o desafio, disputado a 16 de Novembro de 2003, Pedro Sanhudo, falando de si próprio na terceira pessoa do singular, explicou ao ''vice'' do Vizela como deixou de cumprir as leis do jogo.
''A bola bateu no braço'', ''eu ia marcar falta, mas ele está aí um palmo dentro da grande área'', ''não marquei nada e depois tive de fazer aquele filme todo'', foram frases utilizadas para explicar a sonegação de um penalti ao Fafe.
Este relato surgiu depois de Benjamim Castro dizer que o Fafe se queixou de ''três penaltis'', corrigido por Sanhudo, que lembra que os visitantes ''até reclamaram quatro''.
''O árbitro esteve muito mal. Três penaltis, não marca nenhum...'', prosseguiu o ''vice'' do Vizela, antes de ouvir um impropério de Sanhudo, dirigido a si próprio, falado sempre na terceira pessoa.
Benjamim Castro queixa-se de um segundo cartão amarelo a um dos seus futebolistas, mas o árbitro recorda que ''não sabia que ele tinha amarelo'' e, mais tarde, disse que se não o fizesse o cenário ''ainda ficava mais incendiado'', aludindo à indignação dos visitantes com o seu trabalho.
Depois, há referências aos benefícios, nomeadamente à abordagem feita pelo próprio árbitro, que perguntou se havia possibilidades de o Vizela resolver algumas questões no âmbito de ''construção ou hotelaria''.
Em causa estava o Núcleo de Árbitros de Futebol do Baixo Tâmega, do qual era dirigente, e que se encontrava em construção para ser inaugurado em breve, a 12 de Dezembro seguinte.
Um data show, um retroprojector, uma arca refrigeradora e produtos de informática foram os pedidos de Sanhudo, que reconheceu que os produtos eram ''caros''.
Em termos de construção civil, comentou que o lamparquet para equipar o auditório lhe ficava por 1.400 contos (cerca de 7.000 euros)
À resposta de que não havia forma de satisfazer este seu pedido, Sanhudo foi peremptório: ''Eu tenho que me desenrascar noutro lado (…), senão está-me a arder na carteira''.
Em conversa com alguém chamado Miranda, dois dias após o desafio, Pedro Sanhudo ouviu imensas criticas à sua arbitragem, com o seu alegado amigo a contar uma conversa que manteve com uma pessoa de Fafe.
Referências a ''roubo'', ''o gajo devia estar bem comprado'' e ''penalty, o gajo ali dentro da área, derrubado, e o gajo siga, não é nada'', foram algumas das observações feitas.
A tudo isso, retorquiu Pedro Sanhudo com um esclarecedor ''mas sai de lá em beleza, em beleza!''.