O advogado Pedro Henriques, que prestava assessoria ao antigo diretor executivo do fundo de investimento Doyen, Nélio Lucas, disse hoje em tribunal desconhecer alegados empréstimos da empresa a clubes portugueses, como o FC Porto e o Sporting.
Na continuação do depoimento que preencheu a 30.ª sessão do julgamento do processo Football Leaks, a testemunha reiterou não saber que o fundo de investimento tinha emprestado dinheiro a clubes nacionais, mesmo quando confrontado na sala de audiência com um documento da Doyen, no qual estavam listadas essas operações financeiras.
“Da minha parte, de pagamento de empréstimos, tinha conhecimento de situações noutros países. Empréstimos em Portugal nunca passaram por mim”, afirmou, sublinhando: “Não conheço esta folha do documento. Só conheço a folha dos contratos ERPA [Economic Rights Participation Agreement], praticamente. O Nélio Lucas é que conhece melhor o documento”.
Para diferentes questões, Pedro Henriques respondeu diversas vezes não se recordar ou não ter ideia, mas perante o relatório forense pedido pela Doyen e que declarava que os servidores do sistema informático do fundo de investimento estavam em Coimbra e não em Londres, o antigo colaborador de Nélio Lucas foi taxativo a reconhecer a incorreção da informação.
“Que eu saiba, a Doyen nunca teve servidores na WIT Software, em Coimbra. Esta informação está errada, não corresponde à verdade”, disse Pedro Henriques, acrescentando que tal possa ter ocorrido porque foi essa consultora informática que lhe apresentou o ‘software’ Alfresco, utilizado para a gestão documental das pastas no sistema informático da Doyen.
Enquanto Pedro Henriques resumia as suas funções na Doyen a “entregar e clarificar documentos”, assegurando desconhecer os auditores do fundo ou se os escritórios nos quais disse ter estado em Londres pertenciam mesmo à empresa, Rui Pinto mostrava-se atónito com algumas respostas e ia conferenciando com os seus advogados durante a breve inquirição.
A próxima sessão do julgamento está marcada para o dia 19 de janeiro, terça-feira, a partir das 09:30.
Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.